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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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OS OITO PENSAMENTOS<br />

fugir às mulheres e aos bispos, pois tanto umas como outros tem tendência a se<br />

apoderar do monge. De resto, como o sacerdócio era tido em alta estima e que a<br />

ele eram às vezes constrangidos à força os recalcitrantes (donde a alusão às<br />

amarras), sempre se encontravam muitos, indignos, a brigar pelo cargo.<br />

Quanto aos meios, estes jamais faltam ao Tentador. No deserto, havia<br />

pouquíssimos padres, e ainda: dentre os oito padres que se encontravam em<br />

Nitra nos tempos de Evagro, só oficiava aquele que tinha o grau mais elevado<br />

(H.L., VII, 5). Nem por isso o demônio deixou de profetizar a morte do padre<br />

encarregado, acrescentando que ninguém deveria furtar-se a esta honra como o<br />

faziam milhares de monges (M.C., 23). Logo aquele que foi enganado se viu<br />

“vestido com o manto de pastor e apascentando seu rebanho”; ou então, ele<br />

sonhou para si o “dom da cura”, previu “futuros milagres”, imaginou “os que<br />

seriam curados”, as “honras da parte dos irmãos”, e mesmo o “envio de<br />

presentes da parte dos de fora, seja do Egito, seja de outras terras...” (M.C.r.l.,<br />

28). Finalmente, o demônio lhe prometeu que ele seria elevado aos céus... (Ant.,<br />

VIII, 27). Para que nos convençamos de que esta descrição não é uma fábula,<br />

basta que nos lembremos da triste história do monge Eucarpios que Evagro<br />

conheceu bastante bem (cf. H.L.syr., [73]).<br />

Toda a arte do demônio da vanglória consiste em não se apresentar como “de<br />

fora” da via da praktiké, ou seja em não colocar obstáculo ao monge durante o<br />

exercício das virtudes; será sobre o “caminho pelo qual marcha [o monge]” (Sl.<br />

CXLI, 4) que ele colocará sua armadilhas, incitando o virtuoso a não fazer o<br />

bem senão considerando “a glória que vem dos homens” (João, XII, 43) (cf.<br />

M.C.r.l., 30). A perfídia reside aqui no fato de que ele utiliza inclusive nossas<br />

tentativas de escapar-lhe (Pr., 30). Com grande perspicácia, Evagro revela então<br />

os corolários:<br />

Único nisto dentre os pensamentos, o da vanglória possui um domínio<br />

ilimitado, abarcando quase todo o universo, e ele abre as portas a todos<br />

os demônios, como um celerado que entrega uma cidade. (M.C., 15)<br />

E eis os “inimigos” que este “traidor” deixa entrar: se, para nossa infelicidade,<br />

nossas esperanças são satisfeitas, é o orgulho; ao contrário, como consequência

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