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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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PRÓLOGO<br />

não cristã (Fílon), é incontestável. Nem por isto este hábito deixou de ser<br />

considerado “sagrado” e não apenas por Evagro (cf. Pr., Prol. [9]).<br />

Para modernos como nós, não haveria aí matéria para reflexão? Este hábito que<br />

recebiam na sua entrada para a vida monástica – sobretudo o koukoullion, tão<br />

característico – os monges o consideravam tão santo que eles o conservavam<br />

ciosamente ao longo de toda a vida e só o usavam para receber os santos<br />

Mistérios durante a Liturgia. Mais ainda: este pedaço de tecido – rigorosamente<br />

sem valor em si – eles o defendiam de maneira peremptória, se preciso pela<br />

força, contra os ladrões aos quais, de ordinário, deixavam de boa vontade todos<br />

seus poucos bens. É porque eles queriam ser enterrados com este santo hábito no<br />

qual haviam debutado (cf. Phocas 1).<br />

Essa alta estima, o hábito do monge tinha em comum com a vestimenta branca<br />

do batismo que os cristãos se esforçavam por guardar sem manchas até a morte,<br />

a fim de poder apresentá-la em toda sua pureza original no “tribunal de Cristo”.<br />

Não nos espantaremos de encontrar em Evagro todo um simbolismo bíblico do<br />

“hábito”, extremamente desenvolvido.<br />

“Todos os pensamentos impuros que, por causa das paixões, demoram-se<br />

em nós, conduzem o intelecto à ruína e à perdição. (...) Puxado para baixo<br />

devido a esses pensamentos, o intelecto fica como este infeliz do<br />

Evangelho que recusa o festim do conhecimento de Cristo (cf. Mt., XXII, 2<br />

ss), ou como aquele que foi atirado com os pés e as mãos amarrados às<br />

trevas exteriores (cf. Mt., XXII, 11-14). Ele possuía uma vestimenta tecida<br />

com pensamentos, e aquele que o convidara disse-lhe que ele não era<br />

digno de tais bodas. A veste nupcial é portanto a impassibilidade da alma<br />

racional que repudiou as “ambições mundanas’ (Tt, II, 12)...” (M.C., 23)<br />

“Aquele que não ‘morreu’ para sua carne, nem a ‘reduziu à escravidão’<br />

(1 Co., IX, 27), mas que satisfaz seus desejos carnais não terá lugar no<br />

verdadeiro banquete, nem vestirá a roupa de luz.” (Inst. Mon. Supl., 20)<br />

Esta “roupa de luz” ou “vestimenta espiritual” (Vg., 55) conduz à “luz da<br />

Santíssima Trindade” que o místico reveste no momento do encontro com o

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