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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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TRATADO PRÁTICO<br />

inversamente, a perda do conhecimento sempre significa um “cativeiro” (in Ps.,<br />

XIII, 7). É por isso que, durante a oração, o intelecto, em “perfeita<br />

insensibilidade” (Or., 120) deve manter-se livre em relação a todo o sensível:<br />

Deus, com efeito, não é perceptível aos sentidos (in Ps., CXL, 2) e mesmo sua<br />

“contemplação” nos retira das coisas sensíveis (in Ps., CXXVI, 2).<br />

Nisto tudo, Evagro está bem longe de demonizar a realidade sensível (in Ps.,<br />

CXLV, 8). Uma tal atitude equivaleria a blasfemar contra o Criador (in Ps.,<br />

CXLIII, 7e). Nenhum mal advém desta realidade sensível em si, que é boa como<br />

seu Criador (cf. Gn., I, 31), nem mesmo das duas faculdades irracionais, mas<br />

unicamente de seu “uso contra a natureza” (K.G., III, 59), proveniente de algum<br />

“prazer inimigo do homem”, este último oriundo do nosso “livre arbítrio” (M.C.<br />

19).<br />

Evagro não faz aqui mais do que uma constatação objetiva, sem emitir nenhum<br />

julgamento de valor. A relação com a realidade sensível coloca o problema de<br />

nossa inclinação para o mal. A resolução disto no entanto depende de nossa<br />

atitude interior (Pr., 6).<br />

CAPÍTULO 5<br />

Contra os anacoretas, os demônios combatem sem armas; mas contra os<br />

que se dedicam à virtude nos mosteiros ou nas comunidades, eles armam os<br />

mais negligentes dentre os irmãos. Ora, esta segunda guerra é muito mais<br />

pesada do que a primeira, porque não é possível encontrar sobre a terra<br />

homens que sejam mais rancorosos do que os demônios, ou que possam<br />

assumir de uma fez todos os seus malfeitos.<br />

Conforme as diferentes condições de vida dos homens, se eles vivem sozinhos<br />

ou em não importa que tipo de vida comunitária, o combate reveste-se de duas<br />

formas distintas, embora os inimigos sejam sempre os mesmos. A distinção<br />

reside na diferença de atitude em relação aos objetos materiais que desatam as<br />

paixões (Pr., 38). Evagro denomina a primeira forma de “material” e a segunda<br />

de “imaterial” (Pr., 34), o que significa que se trata, no primeiro caso, da atitude<br />

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