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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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PRÓLOGO<br />

vida do contemplativo, e os seis livros da Kephalaia Gnostika, com noventa<br />

“capítulos” cada. Eles giram, prioritariamente, em torno do “conhecimento<br />

natural” ou conhecimento da criação.<br />

O ensinamento dos Padres transmitido por esta trilogia é apresentado por Evagro<br />

colocando-se, de maneira explícita, sob o preceito da disciplina do arcano,<br />

comum à Bíblia e ao cristianismo primitivo. Esta não tem nada a ver com<br />

malabarismos esotéricos mas, como Evagro aprendeu com seu mestre Gregório<br />

de Nazianze, ela corresponde a uma exigência da virtude da justiça, que distribui<br />

“as razões a cada um segundo o seu grau” (Gn., 44).<br />

“Não é perigoso apenas, com efeito, dizer mentiras, mas também o é dizer<br />

a verdade aos que não a podem captar. Pois é preciso ‘não atirar pérolas<br />

aos porcos’ nem ‘dar aos cães o que é sagrado’ (Mt., VII, 6). (in Ps.,<br />

CXVIII, 11)<br />

Evagro não explica aqui porque age assim; na realidade é perigoso dizer a<br />

verdade àqueles que não saberão o que fazer dela, pois:<br />

“Nem as ‘delícias’ espirituais, nem as ‘delícias’ corporais, ‘são úteis ao<br />

insensato’, porque ele pisoteará umas, por ser um porco amigo dos<br />

prazeres, e sua carne será excitada pelas outras, as ‘delícias’ corporais.”<br />

(in Prov., XIX, 10 1 / G.193)<br />

Esta discrição espiritual que se adapta à capacidade de compreensão dos<br />

auditores não se aplica apenas às questões da teologia especulativa (cf. Gn., 27)<br />

ou aos mistérios das santas Escrituras (cf. in Ps., CXI, 5), mas também às<br />

realidades bem mais práticas da vida espiritual (cf. M.C., 16; Ant., IV, 72).<br />

Como Evagro aprendeu com seu mestre da vida monástica, Macário o<br />

Alexandrino (cf. M.C., 27). Esta reticência diante de qualquer “divulgação<br />

desconsiderada” não se fundamenta somente no cuidado com aquele que possa<br />

escandalizar-se (cf. Gn., 48), mas também na convicção de que essas coisas não<br />

devem ser comunicadas àqueles que não percorreram a “via”, enquanto que, para<br />

os questão engajados nela com toda a humildade, elas serão absolutamente<br />

claras.

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