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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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SOBRE AS PAIXÕES<br />

68). Como este corpo, conforme ao outro “mundo” a que pertence, possui uma<br />

composição diferente da do corpo humano, ele escapa à nossa percepção<br />

sensível, embora tenha forma e cor (Ep., LVI, 4). O que às vezes nos aparece<br />

não passa de uma contrafação, ilusória, de um verdadeiro corpo (K.G., V, 18).<br />

Não obstante ele nos influencia, em especial por seu “odor”.<br />

Os corpos dos demônios não crescem nem diminuem; e um odor<br />

nauseabundo os acompanha, com o qual eles colocam em movimento<br />

nossas paixões, e eles são facilmente reconhecidos por aqueles que<br />

receberam de Deus o poder de perceber este cheiro. (K.G., V, 78)<br />

Esta é uma opinião que Evagro compartilha com seus contemporâneos: a<br />

presença dos demônios, para o mestre espiritual, se dá a conhecer por um odor<br />

nauseabundo. Compare-se com o capítulo 63 da Vita Antonii a quem Evagro<br />

provavelmente alude no texto acima. Mas o que isto significa para ele? Se não<br />

podemos perceber nem a forma nem a cor dos demônios pelos sentidos,<br />

tampouco podemos pensar num “sentido” de olfato. No entanto, o “homem<br />

exterior” não é o único a ter cinco sentidos pelos quais perceber a realidade<br />

sensível do cosmos – ao qual, de resto, ele é “aparentado”. O “homem exterior”<br />

possui, ele também, cinco “sentidos espirituais” através dos quais ele apreende<br />

as matérias que lhe são próprias. Quanto ao “olfato” espiritual, ele se deleita com<br />

o puro perfume das realidades espirituais, isento de qualquer contaminação (cf.<br />

K.G., II, 35).<br />

Se então, como no caso aqui, a alma não é pura mas está afetada por uma<br />

determinada paixão, à aproximação do demônio que preside a esta paixão ela “se<br />

inflama” pelos pensamentos que justamente ele lhe traz. E isto acontece desde<br />

que seu “olfato” pervertido se deixe enganar pela ilusão cheia de cobiça que este<br />

demônio versa em torrentes. Concretamente: ou é a parte irascível que que se<br />

inflama de cólera, de raiva, etc., ou é a parte concupiscente, pela ação<br />

vergonhosa (cf. in Prov., VI, 19/G.78), segundo sua “doença” atue aqui ou lá.<br />

Se, ao contrário, ele estiver em boa “saúde” (cf, Pr., 56) e o intelecto chegar ao<br />

conhecimento de Deus, o intelecto, com seu nariz “refinado”, reconhecerá<br />

imediatamente como um mau cheiro as “ilusões” da sedução demoníaca (K.G.,<br />

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