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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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OS OITO PENSAMENTOS<br />

utilizada pelo demônio da tristeza: ele mostra aos anacoretas seus entes queridos<br />

que estão doentes, ou em perigo em terra e no mar... (M.C.r.l., 28). Cada um terá<br />

de acordo com seu temperamento. Porém nem sempre a tristeza e a aflição são<br />

obra do Maligno. Como são Paulo, Evagro distingue duas formas de tristeza:<br />

A tristeza é condenável quando provém da frustração de um prazer<br />

corruptível, mas ela é louvável quando vem da frustração das virtudes e<br />

da ciência de Deus. (in Prov., XXV, 20a / G.313)<br />

Esta última forma de aflição insiste nas coisas que os homens perderam por sua<br />

própria falta, e ela os incita a se converter para que se tornem novamente dignos<br />

daquilo que perderam. O texto que segue detalha a relação entre estas duas<br />

espécies de tristeza:<br />

Todos os demônios ensinam a alma a gostar do prazer: apenas o demônio<br />

da tristeza não quer fazê-lo, e ele chega até a destruir os pensamentos dos<br />

outros que estão ali, destroçando e secando todo o prazer da alma por<br />

meio da tristeza, se é verdade que “os ossos do homem triste secam” (Pr.,<br />

XVII, 22). E se ele combate moderadamente, ele torna o anacoreta<br />

experiente, pois o convence a não se aproximar dos bens deste mundo e a<br />

evitar todo prazer; mas se ele se implanta daí para frente, ele engendra<br />

pensamentos que aconselham a alma a evadir-se, ou que a obrigam a<br />

fugir para longe. É o que o santo Jó sofreu e meditou, quando foi<br />

atormentado por este demônio: “Se eu pudesse, disse ele, dar a mão a<br />

mim mesmo, ou ao menos pedir a um outro que o fizesse por mim!” (Jó,<br />

XXX, 24).<br />

Este demônio é simbolizado pela víbora, este animal cuja substância<br />

natural, ministrada em dose suportável ao homem, destrói o veneno dos<br />

outros animais, mas se tomado em estado puro destrói o próprio ser vivo.<br />

É a este demônio que Paulo entregou o pecador incestuoso de Corinto; é<br />

por isso que ele se apressou a escrever novamente aos Coríntios estas<br />

palavras: “Assim deveis agora perdoar-lhe e consolá-lo para que não<br />

sucumba por demasiada tristeza.” (2 Cor., II, 8). Mas ele sabia que este<br />

espírito que aflige os homens pode também trazer-lhes um bom

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