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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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CONTRA OS OITO PENSAMENTOS.<br />

CAPÍTULO 20<br />

Se a cólera e a aversão fazem crescer a irascibilidade, a compaixão e a<br />

doçura diminuem até aquela que existe.<br />

Aqui como em todos os seus escritos, Evagro dá a maior atenção aos remédios<br />

contra a cólera, pois uma atividade contra a natureza da irascibilidade, faculdade<br />

irracional, constitui o maior obstáculo para a vida espiritual.<br />

Assim como outros Padres, Evagro divide os seres racionais em três classes: os<br />

anjos, os homens e os demônios (Ant., Prol.). O caráter de cada um desses seres<br />

é determinado por um elemento predominante: para os anjos, é o espírito (o<br />

intelecto), para os homens o elemento concupiscente e entre os demônios o<br />

elemento irascível (K.G., I, 68). O homem está situado entre o anjo e o demônio,<br />

e não é nem um nem outro, “até a consumação deste século” (in Prov., I,<br />

32/G.16). Porém, graças ao seu livre arbítrio, ele tem a capacidade de se tornar<br />

semelhante aos dois extremos, pois “somos susceptíveis à virtude e à malícia”<br />

(K.G., III, 76). Se ele deixar crescer o elemento irascível pela cólera e a aversão<br />

ele se torna uma “serpente” (símbolo bíblico do demônio) (Ep., LVI, 4.5), e ele<br />

vive a vida de um demônio (cf. K.G., III, 76). Ao contrário, quando ele reduz<br />

este elemento irascível pela misericórdia e a doçura, ele alcança “um estado<br />

quase angélico” (in Ps., CXVIII, 171), ele se torna “igual aos anjos” (Or., 113),<br />

pois ele adquiriu para si mesmo a natureza do anjo (cf. K.G., III, 76; V, 11). O<br />

demônio, com efeito, é essencialmente dominado pela cólera (K.G., III, 34),<br />

enquanto que a doçura é a “virtude dos anjos” (Vita, K; cf. K.G., IV, 38; Pr., 76).<br />

Vamos nos demorar um pouco sobre esta “diminuição” da cólera, que é o<br />

propósito de Evagro aqui. “A misericórdia cura a cólera” (M.C., 3), assim como<br />

o amor (K.G., III, 35) ou, conforme o caso, a doçura (cf. K.G., IV, 73; M.C.r.l.,<br />

27) que é sua manifestação característica (Ep., LVI, 3ss). A doçura é “a” virtude<br />

cristã por excelência por ser característica de Cristo, sendo que ele próprio nos<br />

ordenou expressamente imitá-lo neste ponto (Mt., XI, 29; cf. M.C., 14; Ep., LVI,<br />

9). E como o demonstra a figura de Moisés, “o mais doce dos homens” (Num.,<br />

XII, 3), esta virtude é também acessível aos homens (Ep., XXVII, 2).<br />

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