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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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INSTRUÇÕES<br />

A diferença entre os monges e os seculares (aqueles que vivem no mundo) é,<br />

como se pode ver, relativa. Mas não é à toa que o estado monástico foi<br />

cognominado de “martírio da consciência”, que legitimamente veio preencher a<br />

lacuna do martírio de sangue.<br />

A distinção estabelecida aqui entre os pecados em pensamentos e os pecados em<br />

ato encontra-se frequentemente nos escritos de Evagro. Precaver-se contra os<br />

segundo era já um mandamento do Antigo Testamento; foi somente no Novo<br />

Testamento que o Senhor proibiu os primeiros. Assim é que Moisés ordena:<br />

“Não cometerás adultério” (Ex., XX, 13), mas Cristo (Mt., V, 28) diz: “Não<br />

cobiçarás” (cf. in Ps., CXXIII, 7). Por conseguinte, o “homem-monge” guardase<br />

dos pecados em ato, enquanto que o “intelecto-monge”, o contemplativo, o<br />

homem perfeito, guarda-se dos pecados em pensamento (cf. Ant., Prol.).<br />

Se é assim tão difícil guardar-se dos pecados em pensamento, é porque o<br />

intelecto é de uma vivacidade impressionante e faz brotar em si, à vontade, essas<br />

“representações” das coisas sensíveis (cf. Ep., XXXIV, 1) que ele concebeu<br />

antes a partir dos objetos em seu ato de conhecimento e que ele “imprimiu” em<br />

si (cf. Ep., XLI, 2). E não apenas as boas representações, ou as neutras, mas<br />

também as representações apaixonadas.<br />

Esta mobilidade, tão difícil de se dominar (cf. M.C.r.l., 25), tem por<br />

consequência ser “impossível, enquanto se é homem, manter-se totalmente longe<br />

dos maus pensamentos” (in Prov., V, 20/G.68). Como já constata Evagro no<br />

capítulo 6, não podemos impedir esses pensamentos de se enraizarem em nós,<br />

excitar em nós as paixões e, finalmente, tornarem-se pecados em pensamentos<br />

ou em atos. É de pleno direito portanto que ele considera feliz aquele a quem o<br />

Senhor livrou dos pecados em ato, porém mais feliz ainda o que foi também<br />

libertado dos pecados em pensamento (cf. in Ps., CXXIII, 7). Pois somente o<br />

segundo está em condições de orar “verdadeiramente”.<br />

Não são apenas a cólera e a concupiscência que aquele que aspira a orar<br />

verdadeiramente deve dominar; é preciso ainda que ele se livre de todo e<br />

qualquer pensamento carregado de paixão. (Or., 54)<br />

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