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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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3. A PROPÓSITO DO COMENTÁRIO<br />

Evagro pensa e se exprime dentro do universo de imagens da Escritura sagrada.<br />

Muitos textos serão assim curtas exegeses de alguns versículos escriturários,<br />

quase como “notas”. Outros terão como pano de fundo espiritual uma palavra<br />

específica da Escritura, sem a qual se tornam incompreensíveis. Devemos<br />

lembrar ao leitor que Evagro, assim como a Igreja de sua época, utiliza a<br />

Septuaginta, que também tomamos como base para esta tradução.<br />

As palavras da “divina Escritura”, para Evagro como para a maioria dos Padres,<br />

são as “palavras do Espírito Santo” (M.C., 24): será assim um dever sagrado<br />

procurar seu significado divino.<br />

É preciso “compreender” a divina Escritura “de modo inteligível” e<br />

espiritual, pois o conhecimento sensível segundo o sentido literal não é<br />

verdadeiro. (in Pro., XXIII, 1/G.251)<br />

Mas nem todos estão aptos a captar “o sentido místico das Escrituras” (in Prov.,<br />

XXXII, 1.3/G.250).<br />

Aquele que tira proveito das divinas Escrituras “come o mel”; aquele que<br />

extrai suas doutrinas da própria realidade – de onde também as tiraram<br />

os santos profetas e os apóstolos – alimenta-se do “favo”. “Alimentar-se<br />

do mel” está ao alcance de todos, mas alimentar-se do “favo” está ao<br />

alcance apenas daquele que é puro. (in Prov., XXIV, 13/G.270)<br />

Evagro não se refere apenas aos que “interpretam mal as divinas Escrituras” (in<br />

Ps., XCIII, 6), mas também aos que “divulgam seus mistérios sem consideração<br />

nem discriminação” (in Ps., CXI, 5), e ele evoca a propósito São Paulo que se<br />

apresentava como fiel “servidor de Cristo e intendente dos mistérios de Deus “<br />

(1 Co, IV, 1).<br />

É claro que uma tal exegese não pretende – nem poderia – ser “histórico-crítica”<br />

no sentido moderno. Ela se quer, explicitamente, “simbólica” (in Ps., CIV, 22)<br />

no sentido que apontamos, “mistagógico”. Para Evagro, os conceitos tomados<br />

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