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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS<br />

VI, 1/G.69), um “teólogo” que não tira sua ciência dos livros mas de seu<br />

“repouso no seio do Senhor” (Mn., 120), de sua intimidade com ele, a exemplo<br />

do “discípulo bem amado (João, XIII, 25) que a Igreja oriental gosta de chamar<br />

de “o teólogo”.<br />

***<br />

Mas o quadro não seria completo se não disséssemos que Evagro, em outro<br />

contexto, atribui à caridade tudo o que aqui ele atribui à justiça. Pois a caridade é<br />

esta virtude que o próprio Cristo colocou acima de todas as outras (Ep.,<br />

XXXVII, 2) e pela qual seus verdadeiros discípulos podem ser reconhecidos<br />

(Ep., XL, 1). Esta “santo amor” (Ep., LX, 4) é de fato bem mais do que uma<br />

simples virtude dentre outras: “nosso amor é Cristo” (Ep., XL, 3), pois segundo<br />

1 Jo, IV, 8, “Deus é amor”. Ele é o “amor original” (Ep., XLIV, 2; LVI, 3),<br />

modelo deste “santo amor”.<br />

Quanto a este “amor espiritual” (K.G., III, 58) que Evagro identifica sempre (cf.<br />

Ep., LVI, 3), sem maiores explicações, com a doçura e mansidão que<br />

caraterizam o próprio Cristo (cf. Mt., XI, 29), ele é o “estado excelente da alma<br />

racional” (K.G., I, 86) que lhe abre a porta da sabedoria (Ep., XXXVI, 3), pois<br />

ele é “a mãe do conhecimento” (Ep., XXVII, 2; cf. Pr., Prol. [8]).<br />

A propósito desta caridade, notemos que Evagro não a liga, como ele faz em<br />

outras ocasiões de modo praticamente constante, ao irascível (cf. Pr., 38; Gn.,<br />

47; K.G., I, 84 – três textos da mesma trilogia – e também: Vg., 41; Ep., VI, 4;<br />

etc.), ele próprio ligado mais intimamente à inteligência com a qual está<br />

“sediado” no “coração” (K.G., VI, 84), mas ao concupiscente. Será um simples<br />

lapsus calami ou pretende ele indicar com isto outra coisa? Neste capítulo, como<br />

nos textos citados, é sempre o próximo que é objeto desta caridade. Parece assim<br />

que Evagro não está pensando neste “amor (agapé) perfeito e espiritual” (Or.,<br />

77), Este “amor-desejo (eros) supremo, que arrebata até os cumes inteligíveis o<br />

intelecto tomado de Sabedoria e de Espírito” (Or., 53), um “amor (pothos) cada<br />

vez maior por Deus” (Or., 119), no qual poderíamos ver, com efeito, levada à<br />

sua perfeição última, nossa faculdade de “desejar”.<br />

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