Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf
Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?
Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?
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CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS<br />
início, com efeito, não éramos maus, uma vez que o Senhor “semeou bens<br />
grãos em seu campo” (cf. Mt., XIII, 24). (M.C.r.l., 31)<br />
Resulta daí que os pensamentos dos anjos não nos abordam “de fora”, mas que<br />
eles estimulam as “sementes das virtudes” que se encontram em todos os<br />
homens, inclusive nos pagãos e nos pecadores, enquanto que os pensamentos<br />
dos demônios são “estranhos” à nossa natureza. Nós temos o poder e o dever de<br />
resistir aos “estrangeiros” (os que não são “de nossa raça”), como Evagro gosta<br />
de chamar os demônios. Mesmo os pecadores são capazes disto. Ao contrário, é<br />
impossível resistir a todos os pensamentos angélicos, justamente por causa das<br />
“sementes naturais de virtude”.<br />
Houve um tempo em que a malícia não existia, e haverá um tempo em que<br />
ela não existirá mais; mas nunca houve um tempo em que não existisse a<br />
virtude, e não haverá um em que ela não exista.. Indestrutíveis, de fato,<br />
são as sementes da virtude. Fui convencido disto pelo rico que foi<br />
condenado ao Hades por sua malícia e que teve piedade dos irmãos (cf.<br />
Lc., XVI, 19-31); ora, possuir a piedade é uma bela semente de virtude.<br />
(M.C.r.l., 31; K.G., I, 40)<br />
Evagro quer dizer que não apenas é impositivo resistir às tentações do Maligno,<br />
mas ainda que isto é possível, porque, em definitivo, estas nos são<br />
“estrangeiras”, exteriores. O Mal não tem mais poder sobre nós do que aquele<br />
que nós lhe concedemos (cf. Ep., XXVIII, 3). Ao contrário, o homem é sempre<br />
acessível ao bem, porque o bem está ancorado em seu ser. Por conseguinte<br />
também, é o bem que se imporá finalmente, vale dizer que Deus o fará<br />
prevalecer, por exemplo, pela ação dos seus santos anjos (cf. K.G., VI, 86).<br />
Esta afinidade no nível do ser entre o “fundo de [nossa] alma” (como diria<br />
Mestre Eckhart) e a ação dos anjos, de um lado, e de outro o caráter estrangeiro<br />
das sugestões demoníacas, explicam porque os anjos sempre trazem a paz,<br />
enquanto que a aproximação dos demônios traz a perturbação. É isto que Evagro<br />
lembra, uma vez mais, ao final deste capítulo (cf. Pr., 54 e 56).<br />
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