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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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Assim, sem a misericórdia de Cristo, jamais o monge atingirá o termo da<br />

praktiké, a apatheia (Pr., 33). As “numerosas vias” da virtude reúnem-se na via<br />

única, Cristo, que disse de si mesmo: “Eu sou a via” (João, XIV, 16) (in Prov.,<br />

IV, 10/G.45); também as numerosas virtudes reúnem-se na virtude única da<br />

justiça (in Ps., XXX, 2) que é, segundo 1 Coríntios, I, 30, o próprio Cristo (in<br />

Ps., CXVIII, 3).<br />

O “método” da Praktiké torna-se assim uma “sequência” (sequela), o que<br />

corresponde exatamente ao significado original do termo (meta-hodos). Longe<br />

de ser uma pura técnica, impessoal, de “auto-redenção”, a praktiké é assim uma<br />

entrada pessoal no mistério do Cristo, Deus-Logos feito homem.<br />

“Conduza-me, Senhor, pelo caminho, e eu marcharei na verdade”: “Eu<br />

sou a via”, disse o Cristo, e também: “Eu sou a verdade”. Ele [o<br />

salmista] ora portanto para que Cristo se torne nele primeiro o<br />

“caminho”, ou seja a virtude, e depois a “verdade”, que provém do<br />

domínio da contemplação. (in Ps., LXXXVIII, 11).<br />

Isto é possível a partir do momento em que “segundo o plano da salvação, o<br />

Logos (por nós) tornou-se a via”, “começo (dos caminhos) do Evangelho que<br />

nos conduzem ao Reino dos Céus” (Ep. Fid., VIII, 2s.). E verdadeiramente, no<br />

duplo sentido da palavra “via”: caminho de Deus para nós e caminho de nós para<br />

Deus. O “método” da praktiké consiste justamente em “seguir” esta “via”, ou<br />

seja, em seguir, imitar o Cristo: é, no sentido estrito, uma sequela Christi.<br />

Quem dominou a cólera, dominou os demônios, mas quem está sujeito à<br />

paixão é inteiramente estranho à vida monástica e está fora dos caminhos<br />

de nosso Senhor, pois ele disse que “o Senhor ensina seus caminhos aos<br />

mansos” (Sl., XXIV, 9). É por isso que o intelecto dos anacoretas é<br />

dificilmente apanhado quando se refugia no terreno da doçura. Os<br />

demônios, com efeito, não temem nenhuma outra virtude tanto quanto a<br />

mansidão, esta virtude que o grande Moisés possuía, ele que foi chamado<br />

de “o mais doce dos homens” (Nm., XII, 3). E o santo Davi pronunciou<br />

estas palavras memoráveis: “Lembre-se, Senhor, de Davi e de toda a sua<br />

doçura” (Sl., CXXXI, 1): mas o próprio Senhor nos ordenou sermos<br />

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