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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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PRÓLOGO<br />

você: ‘foi porque Deus o exaltou e lhe deu um nome acima de todos os<br />

nomes’ (Fil. II, 9).” (in Prov., XXV, 6-7 / G.301)<br />

Como primeira peça da vestimenta é significativo que Evagro cite o<br />

koukoullion, emprestado ao guarda-roupas das crianças da época: como ele<br />

envolve a cabeça, sede da razão (hegemonikon, a faculdade diretora), ele lembra<br />

continuamente ao monge esta virtude do espírito que Cristo distinguiu dentre<br />

todas as outras: a humildade (Mt., XI, 29). É nesta “humildade” e nesta “doçura<br />

de coração” que Evagro vê a manifestação por excelência da caridade (cf. Ep.,<br />

56). Assim “aquecido” o intelecto do monge preencherá continuamente o papel<br />

que lhe foi assinalado: o de “guia” pelos “caminhos do Senhor” (Sl. XXIV, 4).<br />

Agora, do mesmo modo como o orgulho traz a “cegueira” da ignorância e do<br />

afastamento de Deus (Prov., II, 17), a humildade (ou a mansidão) se tornará para<br />

o homem a “mãe do conhecimento”.<br />

“Se vocês não mudarem e não se tornarem como as criancinhas, vocês<br />

não entrarão no Reino dos Céus’ (Mt., XVIII, 3), ou seja se vocês não<br />

obtiverem a impassibilidade, vocês não se tornarão dignos do<br />

conhecimento.” (in Ps., CXXX, 2b)<br />

[3] A nudez das mãos manifesta que seu gênero de vida é sem dissimulação;<br />

a vanglória, com efeito, é hábil em encobrir e obscurecer as virtudes,<br />

sempre perseguindo a glória que vem dos homens e expulsando a fé: “Como<br />

podem vocês crerem, foi dito, vocês que recebem glórias uns dos outros, e<br />

que não procuram a glória que só de Deus vem?” Pois o bem deve ser<br />

escolhido por si só, e não em razão de outra coisa; se não concordamos com<br />

isto, pode parecer que o que nos move em direção ao bem é muito mais<br />

precioso do que o bem realizado, afirmação das mais absurdas, pois<br />

equivale a conceber e dizer que alguma coisa pode ser melhor do que Deus.<br />

A grosseira indumentária dos monges, chamada kolobion (lit.: “o que foi<br />

encurtado”) tinha mangas curtas que vinham até o cotovelo. Evagro via nesta<br />

impossibilidade de esconder as mãos, que são “um símbolo da atividade prática”<br />

(in Eccl. IV, 5 / G.26), uma prevenção contra toda hipocrisia. De Lucas (XII, 1<br />

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