04.03.2018 Views

Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

119<br />

INSTRUÇÕES<br />

o superior das Kellia, Macário o Alexandrino, o proibiu: estas coisas não devem<br />

ser divulgadas (cf. M.C., 27). Não obstante, em uma de suas cartas (endereçada<br />

provavelmente ao abade Lucius e a seus monges), Evagro dá alguns exemplos<br />

interessantes desses comportamentos que nos traem. Quem não se reconhecerá<br />

nestas linhas?<br />

Uma vez mais eu escrevo a vocês, a você e a seus irmãos. Pois eu não<br />

quero que as artimanhas dos demônios sejam ocultas a vocês porque, pela<br />

graça de Deus, vocês avançam a passos largos sobre o “caminho”, ao<br />

longo do qual os demônios espreitam emboscados, espiando os monges:<br />

qual sua inclinação? Para a direita ou para a esquerda? A menos que ele<br />

marche pelo meio da via real.<br />

Assim o demônio da gula observa aquele que jejua: seu rosto de quaresma<br />

manifesta sua privação? Ou ele deixa transparecer alguma coisa análoga<br />

em sua fala? Talvez sua vontade de jejuar seja apenas compartilhada, e<br />

que em seu foro interior ele pensa uma coisa, enquanto no exterior ele<br />

manifesta outra à vista dos homens? Será que ele não estica a orelha para<br />

tentar ouvir alguma observação sobre a palidez de sua face ou o diáfano<br />

de sua pele?<br />

Depois, é o demônio da fornicação que observa o objeto das preocupações<br />

do monge: quando ele encontra uma mulher, foi por puro acaso ou ele<br />

manobrou de maneira a encontrá-la sob pretextos falaciosos? E ele pesa<br />

as palavras que saem de sua boca? São elas para fazer rir ou tem a<br />

prudência como objetivo? Ele também observa os olhos do monge: serão<br />

eles alguma vez impudentes? E seu modo de andar? É afetado, ou melhor,<br />

sua doce indolência não manifesta ela sua paixão? E ele examina ainda as<br />

vestes: são elas pobres, usadas, ou, por causa da mulher, elegantes?<br />

Também o demônio da avareza supervisiona nossas idas e vindas: como<br />

abordamos os ricos? Que lhes dizemos ou como agimos a fim de receber<br />

alguma coisa deles? Diante deles, deploramos nossa pobreza, como se<br />

estivéssemos a ponto de termos de deixar nossa casa devido ao grande<br />

número de pobres que nos procuram? E ainda: será que não recebemos os

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!