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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS<br />

CAPÍTULO 81<br />

A caridade é filha da impassibilidade; a impassibilidade é a flor da prática; a<br />

prática repousa sobre a observação dos mandamentos; estes têm como<br />

guardião o temor a Deus, o qual é um produto da fé direita; e a fé é um bem<br />

imanente, ela que existe naturalmente mesmo entre aqueles que não<br />

acreditam ainda em Deus.<br />

Já no Prólogo [8], encontramos esta espécie de “escala de virtudes”, como<br />

Evagro gosta e elabora frequentemente em seus escritos. Um traço comum, ou<br />

quase, as une: todas levam da fé ao conhecimento através de um número maior<br />

ou menor de degraus intermediários. Transparece ainda que este conhecimento<br />

de Deus, que é o objetivo da vida espiritual, não é outra coisa, definitivamente,<br />

que o desenvolvimento gradual da fé.<br />

Como Clemente de Alexandria (Stromates VII, 10, 55), Evagro define aqui a fé<br />

como um bem imanente, como uma aptidão concedida ao homem no ato da<br />

criação e, por isso – como todas as virtudes – “indestrutível” (cf. Pr., 80): a<br />

aptidão de afirmar este ato pessoal que denominamos “fé”. Como todas as<br />

“sementes de virtude”, este bem se encontra em todos os homens, mesmo pagãos<br />

e ateus. Evagro apresenta outras definições do gênero, abordando outros<br />

aspectos da questão.<br />

A fé é um consentimento racional do livre arbítrio (autexousion) da alma.<br />

(in Ps., CXV, 1a)<br />

A “livre determinação” (prohairesis), possibilidade de escolher por sua própria<br />

autoridade (autexosion) entre o bem e o mal decorre da própria natureza da<br />

criatura dotada de razão. Evagro a define como uma “receptividade” (K.G., VI,<br />

73). Desta “receptividade” resultam a possibilidade, e também a realidade, da<br />

“queda” do “Bem primeiro” (K.G., I, 1) . É por isto que a criatura, que também<br />

poderia não ser (cf. K.G., I, 39), se distingue do Criador que “é” e de quem não<br />

se pode dizer, no sentido estrito, que teria podido escolher (cf. Ep. fid., IX, 4ss).<br />

Assim é que Evagro enxerga a essência do pecado original no abuso da liberdade<br />

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