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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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INSTRUÇÕES<br />

CAPÍTULO 46<br />

Não nos deixemos perturbar pelo demônio que leva o intelecto a blasfemar<br />

Deus e a imaginar essas coisas proibidas que sequer ouso confiar à escrita;<br />

não deixemos quebrantar nosso ânimos. Pois o Senhor é “aquele que<br />

conhece os corações”, e ele sabe que mesmo quando estamos no mundo não<br />

comungamos jamais com semelhante loucura. Este demônio tem como<br />

objetivo nos desviar da oração, que cessemos de nos prostrar diante de<br />

Deus e que não ousemos erguer as mãos para aquele contra quem<br />

concebemos tais pensamentos.<br />

É nos pensamentos blasfematórios que se manifesta o demônio do orgulho, este<br />

“mal original” (Pr., Prol., [2]) que causou a perda do arcanjo. Todos os<br />

pensamentos de orgulho, afinal, são blasfêmias contra Deus, embora Evagro faça<br />

um distinção entre aqueles aos quais o homem se dedica com pleno<br />

consentimento e as tentações involuntárias. A característica destes últimos é de<br />

“submergir o barco como um ciclone”, de “confundir o intelecto que pilota” (cf.<br />

Ep., LII, 3) e de levá-lo consigo contra sua vontade (cf. Ant., VIII, 41; Pr., 43,<br />

51). Pois o pensamento da blasfêmia é o mais rápido (in. Ps., CXXXIX, 4b), tão<br />

súbito quanto o da fornicação. Ele é quase capaz de ultrapassar o movimento do<br />

intelecto (Pr., 51) e nos surpreende assim, de improviso.<br />

Essas blasfêmias são de diversos conteúdos. Algumas são de natureza teológica,<br />

com a negação da divindade do Filho e do Espírito, que rebaixa a Trindade ao<br />

nível da criatura (Mn., 134). Outras referem-se à physiké. Ao colocar em<br />

questão “o julgamento e a providência” de Deus (in Prov., XIX, 5/G.190) e<br />

denegrir nossa existência corpórea (K.G., IV, 60.62), elas chamam o Criador de<br />

injusto e desprovido de sabedoria (in Ps., CXLIII, 7). Outras são, num sentido<br />

mais restrito, de natureza soteriológica. Elas negam o livre arbítrio e,<br />

correlativamente, a justiça de Deus (Ant., VIII, 16). Elas questionam<br />

impertinentemente se Deus está, sim ou não, entre nós (Ant., VIII, 12), ou seja<br />

elas negam a assistência divina (Ant., VIII, 5) e chegam a desafiar os demônios<br />

(Ant., VIII, 47; cf. 49c). Algumas vezes as blasfêmias são de tal modo<br />

intoleráveis que a pena hesita em colocá-las por escrito...<br />

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