04.03.2018 Views

Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

separadamente (e muitas vezes também os eventos) são símbolos de uma<br />

realidade espiritual que os ultrapassa, que é preciso “contemplar” para então<br />

transpor para sua própria realidade. Temos às vezes longas listas destes nomes<br />

simbólicos (in Prov., XXV, 26/G.317) que devem ser todos tomados no “sentido<br />

figurado” (tropikos).<br />

Entretanto, esta decifração da Escritura pelo símbolo e a meditação não tem nada<br />

de um jogo gratuito. E nem todas as palavras com alcance simbólico têm o<br />

mesmo significado em todos os contextos. Evagro está bem consciente de que<br />

nem tudo pode ser interpretado “espiritualmente”. Aquele que avança longe<br />

demais nesta direção torna-se facilmente motivo de riso para seus ouvintes (Gn.,<br />

34). Enfim, existem também realidades diante das quais o exegeta deve<br />

simplesmente reconhecer que escapam à sua compreensão (in Ps., CIX, 3). O<br />

objetivo da exegese deve permanecer sendo “a explicação dos mandamentos<br />

para consolo dos simples” (K.G., IV, 61).<br />

Tanto no texto como no comentário o leitor encontrará numerosos exemplos<br />

dessa interpretação simbólica da Escritura, de que esta Introdução já deixou<br />

entrever alguma coisa. Esta maneira de ver, é preciso reconhece-lo, é<br />

inteiramente estranha para o homem moderno que, submerso nas ondas de seus<br />

conhecimentos “científicos”, perdeu por completo o “sentido espiritual” – ou<br />

quase todo ele. Podemos penetrar nela com mais facilidade se mergulharmos<br />

seriamente em um versículo como 1 Co, X, 4, no qual Cristo é chamado de<br />

“rochedo espiritual”. A palavra pronunciada numa situação histórica dada não<br />

está mais fechada em si mesma do que o próprio Deus não está encerrado nesta<br />

situação. Graças à absoluta liberdade de Deus cada uma de suas palavras, em<br />

que opera o Espírito, está aberta para a plenitude de sua obra de salvação em<br />

Cristo. Sem esvaziá-la por pouco que seja de seu sentido primeiro ela se torna<br />

assim um typos – imagem precisamente desta plenitude (Rom., V, 14). Este<br />

“sentido histórico”, como disse Evagro precedentemente, não se tornará falso a<br />

menos que tentemos encerrar Deus na história despojando assim suas palavras<br />

da Promessa por cuja causa a Sinagoga e a Igreja tanto tempo as conservaram.<br />

27

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!