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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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carreira brilhante, uma vez que Teodósio havia dado seu apoio ao triunfo da<br />

ortodoxia em 380.<br />

Entretanto, desgostoso com as intrigas no próprio seio da Igreja, Gregório<br />

renunciou a seu cargo em meados de 381 e retirou-se para Nazianze. Evagro, ao<br />

contrário, permaneceu junto de seu sucessor Nectário, a quem prestou preciosos<br />

serviços. Mesmo não tendo seguido Gregório ao seu país de origem, Evagro<br />

guardou até a morte uma lembrança de afetuosa gratidão para com seu mestre da<br />

“mais alta filosofia”, a quem ele celebrou como “boca de Cristo” e “vaso de<br />

eleição”; o próprio <strong>Tratado</strong> Prático traz disto um eloquente testemunho.<br />

Pouco depois da partida de Gregório, ao que parece, Evagro esteve implicado<br />

num “affaire” que iria dar à sua vida uma orientação completamente diferente. A<br />

esposa de um alto funcionário imperial encantou-se com o orador brilhante e<br />

com sua pessoa, mas Evagro, por seu lado, não se sentiu muito seguro sobre o<br />

que fazer. Um sonho, bastante interessante do ponto de vista psicológico, e que<br />

Evagro contará mais tarde a um amigo íntimo, impôs-lhe a solução do conflito:<br />

fugir. É a segunda fuga que presenciamos, e não será a última.<br />

Porque Evagro não se refugiou em Gregório, mas foi para Jerusalém, é coisa que<br />

ignoramos. O que sabemos é que ele foi acolhido por Melania a Velha, uma<br />

viúva da alta nobreza que havia fundado com Rufino, entre 375 e 380, um<br />

mosteiro duplo sobre o Monte das Oliveiras. Em seu sonho, Evagro havia feito o<br />

juramento de mudar totalmente sua vida mundana, mas logo depois de passado o<br />

perigo ele esqueceu rapidamente esta promessa solene. Ele havia “refugado”,<br />

como diríamos hoje em dia; em especial se pensarmos no que haveria por vir.<br />

Com efeito, algum tempo depois, Evagro foi vítima de uma “febre” inexplicável<br />

que o prendeu ao leito por seis meses e quase o levou. Espírito precavido e<br />

enérgico, Melania parece ter sutilmente percebido a origem “psicológica” desta<br />

febre. Diante de sua insistência, Evagro confessou-lhe o voto que fizera em<br />

Constantinopla. Melania o fez prometer então que ele se tornaria monge e, em<br />

poucos dias, Evagro estava curado. Na Páscoa de 383, Rufino deu-lhe o hábito<br />

monástico na presença de Melania.<br />

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