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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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153<br />

SOBRE OS SINAIS DA IMPASSIBILIDADE<br />

Este apoftegma de formulação paradoxal, novamente, fascinaram os Antigos que<br />

o incluíram em sua coleção de apoftegmas (Evagro 3). O sentido se revela se<br />

atentarmos para o fato de que trata-se aqui de mais um sinal da impassibilidade.<br />

A salmódia e a oração, que os Antigos sabiam distinguir muito bem, são ambas<br />

carismas, portanto dons de Deus, que é preciso pedir (cf. Or., 87|) mas que<br />

provém, por assim dizer, de duas “ordens” diferentes.<br />

A salmódia pertence à sabedoria multiforme; mas a oração é o prelúdio<br />

da gnose imaterial e uniforme. (Or., 85)<br />

Por seu conteúdo – trata-se da obra redentora de Deus na criação e na história – a<br />

salmódia pertence à physiké (cf. K.G., I, 28), na qual se reflete a sabedoria<br />

“cheia de variedades”, a “sabedoria multiforme de Deus” (Efe., III, 10), o<br />

Criador (cf. K.G., I, 43; II, 2; e.a). Esta “variedade” tem qualquer coisa de<br />

distrativo para o intelecto, a quem ela obriga a “compartilhar a multiplicidade”<br />

(Or., 58).<br />

Eu vi, disse ele [i.e. o Eclesiastes], os objetos sensíveis ocuparem o<br />

pensamento do homem, objetos que Deus deu aos homens antes de sua<br />

purificação para que os homens se ocupassem deles. Ele fez sua beleza<br />

temporária e não eterna, pois após a purificação o puro não considera<br />

mais os objetos sensíveis como ocupações para seu intelecto, mas como os<br />

[meios] dispostos nele para a contemplação espiritual. Uma é a maneira<br />

pela qual o intelecto é impressionado quando ele percebe de modo<br />

sensível o que é sensível por intermédio dos sentidos, e outra é sua própria<br />

disposição quando ele contempla as razões dispostas naquilo que é<br />

sensível. Mas esta ciência não chega senão aos puros, enquanto a<br />

percepção dos objetos pelos sentidos chega tanto aos puros como aos<br />

impuros. (in Eccl., III, 10-12/G.15)<br />

Esta maneira de ver as coisas esclarece melhor nossa questão:<br />

“Eu quero salmodiar diante de ti em presença dos anjos”: “salmodiar na<br />

presença dos anjos” significa salmodiar sem distração, seja porque nosso<br />

intelecto não está impressionado senão pelos objetos significados pelo

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