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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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104<br />

SOBRE AS PAIXÕES<br />

...na ausência de uma coisa perceptível pelos sentidos, não nos chega<br />

nenhum pensamento impuro. (M.C.r.l., 23)<br />

A realidade sensível aborda o intelecto por meio das duas faculdades da alma<br />

irracionais e passionais, a concupiscente e a irascível, todas as duas derivando<br />

essencialmente do corpo (cf. K.G., VI, 85), que por sua vez é aparentado ao<br />

cosmo (cf. in Ps., XLIII, 20). Inversamente,<br />

... aquilo que não toma parte na sensação é também isento de paixão. (Pr.,<br />

4)<br />

Isto diz respeito às razões (logoi) imateriais, ocultas nas coisas, que<br />

redirecionam para o criador imaterial (cf. in Ps., XXIX, 8).<br />

Como vimos (Pr., 37), nem as coisas materiais, nem as representações (que o<br />

intelecto extrai delas), nem mesmo as duas faculdades irracionais (que fazem o<br />

papel de mediador), representam um obstáculo na via da salvação. E mesmo os<br />

demônios que nos tentam seriam impotentes, se não tivessem em nós um<br />

cúmplice. É nosa atitude falsa, egoísta, diante das coisas e o mau uso que<br />

fazemos das faculdades de nossa alma e, através delas, das coisas (cf. K.G., III,<br />

59), que nos levam à queda. Mas que na parte concupiscente domine a virtude da<br />

abstinência (ou do domínio de si: enkrateia), e na parte irascível domine a<br />

virtude do amor desinteressado (agapé), e as paixões serão incapazes de se<br />

desenvolver. Mesmo que sejamos assaltados por demônios (cf. Pr., 77). As<br />

“sementes” destas virtudes e de todas as outras subsistem entretanto no homem,<br />

mesmo no pecador, mesmo que ele se encontre no inferno por causa de sua<br />

malícia (cf. K.G., I, 40).<br />

Dito isto, não basta apenas conter, na medida do possível, a parte concupiscente<br />

pela abstinência. Sem “a caridade que cura as partes inflamadas da<br />

irascibilidade” (Gn., 47), a abstinência não passa de cinza fria (cf. Ep., XXVIII,<br />

1).<br />

O fato de que, para curar a parte irascível, são necessários remédios mais<br />

enérgicos do que para a parte concupiscente e que, por isso mesmo, o amor seja

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