Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf
Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?
Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?
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Se você for um teólogo, você rezará verdadeiramente; se você rezar<br />
verdadeiramente, você é um teólogo. (Or., 61)<br />
Com a prece “espiritual” e “verdadeira”, cujo mestre é o Espírito Santo (Or., 70),<br />
o ensinamento espiritual de Evagro atinge seu pleno desenvolvimento. Esta<br />
prece é “espiritual” e “verdadeira” por ser feita “em espírito e em verdade”<br />
(João, IV, 23), “ou seja, no Espírito Santo e no Filho Único” (Or., 59), ele que,<br />
por essência, é a verdade (João, XIV, 6). Mas não cabe aqui seguirmos esta<br />
reflexão. Basta a constatação: é de pleno direito que Evagro qualifica de<br />
“espiritual” o “método” da praktiké, dado que ele é animado pelo Espírito Santo,<br />
assim como o “conhecimento espiritual” (ou contemplação).<br />
2.5. Os obstáculos sobre o “caminho”<br />
O “método espiritual” da praktiké trabalha sobre a parte passional da alma,<br />
irascível e concupiscente: por aí se indica aonde residirão os perigos desta “via”<br />
e as resistências. A “alma racional” comunica com o mundo sensível e material<br />
através das duas faculdades irracionais que desempenham assim o papel de porta<br />
de entrada das paixões, “pois o que não tem parte na sensação também está<br />
isento de paixão” (Pr., 4).<br />
Embora as coisas sejam extremamente complexas, é entretanto claro que nem os<br />
objetos em si, nem as faculdades pelas quais os percebemos (K.G., III, 59), nem<br />
mesmo suas representações “impressas” em nosso espírito, constituem obstáculo<br />
sobre o caminho da salvação, mas sim a maneira como abusamos destas coisas<br />
(in Ps., CXLV, 8), ou seja as paixões. É aqui que a praktiké aparece.<br />
O homem prático é aquele que usa corretamente aquilo que lhe foi dado<br />
por Deus. O intelecto prático é aquele que sempre recebe sem paixões as<br />
representações deste mundo. (Sk., 15-16)<br />
Todas as paixões “genéricas”, em número de oito (Pr., 6) das quais nasce a<br />
multidão das demais, têm sua raiz última no “carinho por si mesmo” (philautia)<br />
(Sk., 53): “amor preferencial” (philia), exclusivo, do próprio “Eu”, sentimento<br />
que Evagro chama com muita exatidão de “aversão universal” (Sent., 48).<br />
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