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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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SOBRE O ESTADO PRÓXIMO DA IMPASSIBILIDADE<br />

CAPÍTULO 62<br />

Tanto as virtudes quanto os vícios cegam o intelecto; aquelas, para que ele<br />

não veja os vícios; estes, para que ele não veja as virtudes.<br />

Estas inversões de conceito são frequentes em Evagro. Normalmente, “estar<br />

cego”, ser incapaz de conhecer pela vista, representa uma deficiência: “Ser cego<br />

significa estar privado de conhecimento” (in Ps., CLXV, 8c). Mas aqui, isto<br />

significa que o homem, de algum modo, “perdeu de vista” o vício. Da mesma<br />

forma, a “insensibilidade”, em si, é um vício terrível (cf. M.C., 11); porém, em<br />

Or., 120, ela significa a supressão – entendida no sentido positivo – da<br />

percepção sensível, no estado de oração. Também pode tratar-se de uma<br />

“distração divina”, sinônimo do “conhecimento de Deus” (in Eccl., V, 17/G.42),<br />

em oposição a uma “distração passageira” em função dos objetos sensíveis (in<br />

Eccl., III, 10-12/G.15), podemos dizer de uma “má distração” da ignorância que<br />

“separa o impuro da contemplação” (in Eccl., V, 13/G.40). De modo análogo, a<br />

“surdez”, em si, representa uma deficiência, e no entanto a impassibilidade traz<br />

consigo uma “surdez” positiva da qual o intelecto particularmente tem<br />

necessidade durante a prece.<br />

“E eu, como um surdo, nada ouvi”: na verdade, ele acolheu os<br />

pensamentos do tentador, mas não os “escutou”, porque não os colocou<br />

em prática. Pois foi graças a uma surdez causada pela impassibilidade<br />

que ele não “escutou”. (in Ps., XXXVII, 14)<br />

São ainda os mesmos pensamentos que Evagro expressa por meio de outras<br />

variações sobre o tema da saída, que não deixa de ter afinidades com o tema da<br />

“via”, aqui vista como praktiké, no decurso da qual nos separamos<br />

progressivamente do vício para nos aproximarmos da virtude:<br />

Dizemos das virtudes, que elas estão “à nossa frente”, e, ao contrário, que<br />

os vícios se acham “atrás de nós”. É por isso que nos foi ordenado “fugir<br />

da fornicação” (1 Co., VI, 18), mas de “perseguirmos [a ocasião de<br />

exercer] a hospitalidade” (Rom., XII, 13) (in Ps., XLIII, 11)<br />

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