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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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PRÓLOGO<br />

E no entanto, o “profeta” cristão vai mais longe do que seus modelos: sua<br />

mudança de hábitos simboliza uma mudança de convicções radical, como<br />

Evagro irá mostrar claramente descrevendo cada peça da vestimenta. A ruptura<br />

com os costumes da indumentária do “mundo” não é outra coisa que a ruptura<br />

para com suas convicções. O monge não se veste como “todo mundo” porque<br />

ele decidiu não viver e não pensar como “todo mundo”.<br />

Nisto, ele não faz mais do que o próprio Apóstolo pede aos cristãos: “Não se<br />

conformem com o século, mas transformem-se por uma renovação do espírito, a<br />

fim de poder discernir qual a vontade de Deus, aquilo que é bom, agradável e<br />

perfeito” (Rom, XII, 12). Mas ele o faz de uma maneira simbólica, que cai no<br />

campo dos sentidos, ou seja, de uma maneira profética.<br />

[2] O capuz é o símbolo da “graça de Deus nosso Salvador”, que protege sua<br />

razão e aquece a infância em Cristo, por causa daqueles que procuram<br />

constantemente agredir e ofender. Assim aqueles que a levam sobre a<br />

cabeça cantam com toda verdade: “Se o Senhor não construir a casa e não<br />

guardar a cidade, é em vão que trabalha o construtor e aquele que se<br />

esforça em vigiar”. Estas palavras produzem a humildade, elas extirpam o<br />

orgulho, o mal original que precipitou sobre a terra Lúcifer, aquele que se<br />

levanta com a aurora.<br />

O cristão não vive mais “sob a lei, mas sob a graça” (Rom., VI, 14). Por<br />

conseguinte, a vida espiritual não é outra coisa que a vida na graça e pela graça<br />

de Deus. O capuz que os monges portavam sempre sobre a cabeça, simboliza<br />

esta graça, sem a qual toda e qualquer “construção” humana é vã. O que há de<br />

mais precioso, e que foi dado ao cristão pelo batismo – a adoção em Cristo – a<br />

graça o protege contra todos os ataques deste mal mortal que é a causa da queda<br />

do príncipe dos anjos. Pois é exatamente esta tentação do orgulho que levou um<br />

dia Lúcifer a pretender, como um demente, posar em igualdade com seu Criador.<br />

“Não diga: ‘eu colocarei meu trono acima das estrelas, eu serei<br />

semelhante ao Altíssimo’ (Is. XIV, 13-14). Porque é melhor que digam de<br />

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