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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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que tudo o que se passa nas partes “irracionais” e sujeitas às paixões reage<br />

diretamente sobre o intelecto.<br />

O thymos [o irascível], quando perturbado, cega aquele que vê [i.e. o<br />

intelecto], e a epithymia [o concupiscente], quando movido de forma<br />

animal, esconde os objetos visíveis. (K.G., V, 27)<br />

A cólera e a cobiça, os dois vícios da parte irracional da alma, devido ao fato da<br />

profunda interpenetração entre as três faculdades, despojam assim o intelecto<br />

desta “ciência verdadeira do seres” (Pr., 2) que é sua razão de ser (in Ps., CXLV,<br />

8). Ele cai em seu pecado característico: a ignorância (agnoia), o<br />

desconhecimento (agnosia) (K.G., I, 49; 84), de que ele só poderá libertar-se<br />

pela “ciência” (K.G., III, 35) que Deus lhe dá gratuitamente (kataxioo). Deus<br />

porém não o cura de sua “cegueira” enquanto ele próprio não curar a parte<br />

passional por meio da praktiké. Somente aquele que adquiriu a apatheia, a<br />

liberdade em relação às paixões, a “saúde natural da alma” (Pr., 56), será<br />

iniciado nos “mistérios de Deus” (in Ps., CXVIII, 131) por meio do Espírito<br />

Santo.<br />

2.2. A praktiké como “via”<br />

Para um leitor moderno, e à primeira vista, a palavra erudita “método” traz a<br />

idéia de uma certa maneira de proceder, de uma técnica. Tal não aconteceria<br />

para um grego que, ao ouvi-la, perceberia imediatamente a noção de “via”: metahodos,<br />

método. Esta derivação determinou Evagro na escolha dos termos:<br />

inspirado pela linguagem das Escrituras, e sobretudo dos Salmos, que descrevem<br />

a vida sob a metáfora da via e do encaminhamento, Evagro considera a praktiké<br />

de preferência como um “caminho”. É o “caminho da praktiké” (in Ps., CXVIII,<br />

32) ou simplesmente “a via prática”.<br />

Então, no que consiste este método? Antes de qualquer outra coisa, e como o<br />

sugere o próprio nome de praktiké – que alterna às vezes com praxis – ele<br />

consiste num “cumprimento”, uma via de “encaminhamento” (hodeuo) que leva<br />

dos vícios às virtudes (in Ps., LXXVI, 21) e, mais precisamente, na “observância<br />

dos mandamentos” de Deus (Pr., 81). A praktiké torna-se assim o “caminho dos<br />

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