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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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63<br />

OS OITO PENSAMENTOS<br />

Esta complexidade traz em si comportamentos tão contraditórios quanto o langor<br />

e a indolência de um lado (O. Sp. [XIII] 6,1) e a atividade febril e um excesso de<br />

zelo desenfreado de outro (M.C., 2). A descrição das formas sempre novas sob<br />

as quais se manifesta a acídia deve facilitar o discernimento dos espíritos, mais<br />

necessária aqui do que em qualquer lugar.<br />

Ao final é dito que “este demônio não é seguido por nenhum outro”. E com<br />

razão. “Primeiro, porque (este pensamento) dura muito; depois, porque ele traz<br />

consigo quase todos os pensamentos” (in Ps., CXXXIX, 3a). Trata-se portanto<br />

de uma mistura e ponto de confluência dos outros pensamentos. É isto que o<br />

torna “o mais pesado” de todos os demônios (Pr., 28), pois ele “abarca a alma<br />

quase toda” como o abrasador sol do meio-dia e ele ameaça “sufocar o intelecto”<br />

(Pr., 36). Este demônio da acídia, é também o “demônio do meio-dia” (in Ps.,<br />

XC, 6) em sua acepção mais extensa: crise da idade madura, crise da “meiaidade”.<br />

Por vergonhosa que possa ser uma derrota neste domínio (cf. Pr. 28), a tentação<br />

persistente da acídia vem carregada de uma promessa de liberdade: de todas as<br />

tentações, ela é a única que não é seguida imediatamente por nenhum outro<br />

demônio, mas, ao contrário, por um “estado agradável” e uma “alegria inefável”.<br />

O primeiro alude à impassibilidade enquanto objetivo da praktiké (Pr., 57),<br />

enquanto a segunda está ligada à oração em sua forma mais elevada: uma<br />

contemplação desprovida de toda representação e de toda palavra (Or., 15, 62,<br />

153).<br />

No tempo da acídia, é a vida que está em jogo. Irmã gêmea da tristeza (cf. Vit.,<br />

III, 4) ela pode conduzir seja à ruína da vida espiritual, seja ao suicídio (cf. M.C.,<br />

13), seja a esta passagem na qual a criatura encontra o “Incognoscível”.<br />

Pedregoso é o caminho que aí conduz. A este respeito, daremos mais um<br />

exemplo, no qual não apenas os eremitas se reconhecerão:<br />

O olhar de quem é presa da acídia fixa continuamente as janelas, e seu<br />

espírito sonha com visitantes. Um rangido da porta o faz levantar-se. Ao<br />

ouvir uma voz, ele assoma à janela, que não deixa senão quando,<br />

sonolento, volta a se sentar. Enquanto lê, aquele que sofre de acídia não

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