Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf
Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?
Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?
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SOBRE OS SINAIS DA IMPASSIBILIDADE<br />
salmo, seja porque ele não recebe nenhuma impressão. Ou melhor, talvez:<br />
salmodia na presença dos anjos aquele que reconhece o sentido dos<br />
salmos. (in Ps., CXXXVII, 1a)<br />
O ponto central deste trecho reside na expressão: “na presença dos anjos”. Pois<br />
em si a salmódia é a atividade própria dos homens, mais precisamente: própria<br />
daqueles que atingiram a impassibilidade; já o canto dos hinos está reservado<br />
aos “contemplativos”, ou seja aos anjos e àqueles que, devido à sua excepcional<br />
pureza, adquiriram um “estado quase angélico” (in Ps., CXVIII, 171). Salmodia<br />
“sem distração” quem, por humano que seja, embora quase um anjo por sua<br />
grande pureza, não “vê” nada, nas palavras dos salmos, senão as razões (logoi)<br />
da physiké que estão aí ocultas. Da multiplicidade das manifestações da<br />
“sabedoria de Deus” na criação, ele dirige seu olhar para a própria “sabedoria<br />
essencial”. Pois, dentre a multitude de logoi, ele contempla o Logos único (cf. in<br />
Ps., XXIX, 8).<br />
E “orar sem distração”?<br />
A prece sem distração é a mais alta intelecção do intelecto. (Or., 35)<br />
Pois o intelecto, que é “naturalmente feito para a oração, mesmo sem o corpo”<br />
(Pr., 49) – ou seja, sem este precioso “instrumento” que o coloca em relação com<br />
o mundo sensível – desenvolve então “a atividade que lhe é própria” (Or., 83) e<br />
que na qual “assenta-se sua dignidade” (Or., 84). Por isso:<br />
A gnose é excelente, pois ela é colaboradora da prece despertando a<br />
potência intelectual do intelecto para a contemplação da gnose divina.<br />
(Or., 86)<br />
Por “prece” entenda-se aqui a “ascensão do intelecto para Deus” (.Or, 36), na<br />
qual, “sem nenhum intermediário” (Or., 3), unicamente “em espírito e verdade”<br />
– ou seja, no Espírito Santo e no Filho Único (cf. Or., 59) – a criatura “conversa<br />
sempre com Ele (Deus) como (um filho) com um pai”(Or., 55). Eis, enfim, um<br />
encontro pessoal com Deus e um louvor a partir “não das criaturas (...) mas do<br />
próprio Deus” (Or., 60), com a diferença em relação à salmódia, que esta “louva
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