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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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SOBRE AS PAIXÕES<br />

É por isso que o “médico de almas” não aboliu as coisas: ele é seu<br />

criador; ele tampouco constrangeu o intelecto a não as conhecer; pois ele<br />

o criou para que as conhecesse. Mas, pelo o ensino espiritual e os<br />

mandamentos, ele libera o intelecto de suas cadeias destruindo as paixões<br />

(que devem ser distinguidas das representações e das coisas de onde elas<br />

tiram sua origem). É o que significam [as palavras do salmista]: “O<br />

Senhor liberta os acorrentados”. (in Ps., CXLV, 8)<br />

Assim portanto, a raiz do mal não reside nem nas coisas sensíveis, nem nas<br />

representações que o intelecto tira delas em seu ato de conhecimento, e que,<br />

como tais, não deveriam acorrentá-lo, nem “demorar-se no coração”. A raiz do<br />

mal reside na livre escolha do intelecto que, em lugar de inclinar-se para o bem,<br />

inclina-se para o mal (cf. in Eccl., VI, 10/G.52), ou ainda: em um “prazer<br />

inimigo do homem, engendrado por seu livre arbítrio e que empurra o intelecto<br />

para um mau uso das criaturas” (M.C., 19). Fazendo isto, ele não as relaciona<br />

com seu criador, mas as aliena em seu próprio benefício, de uma maneira<br />

egoísta. Cabe lembrar aqui que, para Evagro, a raiz de todos os vícios é a<br />

filáucia, o “carinho por si mesmo” – que poderia ser também chamado de “autoescravidão”.<br />

CAPÍTULO 38<br />

É por meio das sensações que as paixões são naturalmente desencadeadas;<br />

se a caridade e a abstinência se fazem presentes, elas não se desencadeiam;<br />

mas, na sua ausência, elas o serão. Ora, a parte irascível tem necessidade de<br />

mais remédios do que a parte concupiscente: é por isso que a caridade é<br />

dita “grande”, pois ela é o freio da parte irascível; é também ela que Moisés,<br />

este grande santo, em seu tratado sobre a natureza, denominou<br />

simbolicamente de “ofiomáquica”.<br />

Todo conhecimento das criaturas tem seu ponto de partida na percepção<br />

sensível, porque o intelecto encontra-se “incorporado” (Sk., 35), e esta é também<br />

a porta de entrada das paixões. Com efeito,<br />

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