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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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TRATADO PRÁTICO<br />

CAPÍTULO 3<br />

O Reino de Deus é a essência da santíssima Trindade, co-extensiva com a<br />

substância do intelecto e que ultrapassa sua “incorruptibilidade”.<br />

Esta proposição enigmática encontra sua interpretação nos Kephalaia Gnostika<br />

que, embora tratem sobretudo da physiké, contemplam às vezes a theologiké,<br />

pois, juntamente com a primeira, ela constitui precisamente a theoretiké. O<br />

“conhecimento” do Deus trinitário – e não de uma divindade a-pessoal – como<br />

expressão da mais alta comunhão pessoal (João, XVII, 3) é por esta razão “coextensiva”<br />

com a existência do intelecto,<br />

...o qual, com efeito, saiu um dia do Criador e surgiu com a natureza que<br />

o acompanhou. (K.G., II, 3)<br />

O intelecto é “incorruptível” (aphtartos) por ser “imagem” (eikon) de Deus;<br />

assim sendo, embora criado, ele é imaterial (K.G., I, 46; Or., 119) e incorpóreo<br />

(M.C.r.l., 24) como o próprio Deus. A partir daí, o conhecimento da santa<br />

Trindade ultrapassa a “incorruptibilidade” do intelecto, que acompanha a<br />

contemplação da natureza criada em seu estado primeiro (K.G., III, 33), pois ela<br />

é mais antiga do que toda a contemplação natural (K.G., II, 3).<br />

No “Reino de Deus”, do Pai, quando “Deus será tudo em todos” (1 Co., XV, 28),<br />

a comunhão original com o Pai pelo Filho e o Espírito (que ele – intelecto –<br />

perdera por sua própria falta) será novamente outorgada ao intelecto (Ep. Mel.,<br />

31). Este “bem-aventurado fim” ultrapassa entretanto, e de muito, o “começo”,<br />

uma vez que a instabilidade original [do estado] do intelecto se transformará em<br />

estabilidade e que lhe será dada a eterna e beatificante comunhão com o Deus<br />

trinitário (Ep. Mel., 62.63).<br />

Eis assim o que Evagro entende por “beatitude escatológica” na qual deve<br />

finalmente desembocar a “teologia” (Pr., Prol.,). Aqui, sobre a terra, aquele que<br />

recebe a sua graça participa desta beatitude em vir ao encontro pessoal com<br />

Deus, sem intermediário (Or., 3), na theologia. Seu “lugar” é esta oração<br />

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