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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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SOBRE O QUE ACONTECE NO SONO<br />

interessado terá sonhos correspondentes. Os exemplos dados aqui por Evagro<br />

concentram-se em grande parte nos pensamentos da cobiça sensível sob sua<br />

forma mais elementar, a gula (cf. Ant., I, 30.36.39 e.a).<br />

O mesmo acontece com a parte irascível (thymos) que, conforme à sua natureza,<br />

não luta pela virtude (cf. Pr., 86), mas contra o próximo, cheia de raiva e<br />

ressentimento, ou ainda plena de orgulho, para cair em seguida cheia de tristeza,<br />

por não conseguir satisfazer seu desejo de vingança ou seu devaneio de grandeza<br />

(cf. Pr., 10). À noite sobrevêm-lhe pesadelos aterradores, já descritos muitas<br />

vezes aqui (cf. supra capítulos 11 e 21). No momento desses fantasmas, fugir<br />

diante do terror é um indício de falta de energia (M.C.r.l., 26), e isto significa<br />

que a parte irascível está “doente”, pois sua virtude específica é a coragem (cf.<br />

Pr., 89).<br />

Para “curar” a parte irascível, Evagro aconselha cima de tudo “invocar a Cristo<br />

nas vigílias”. A alusão é discreta mas transparente para quem conhece a<br />

espiritualidade dos Padres do deserto: trata-se aqui das orações “breves”,<br />

“constantes”, “insistentes”, “incessantes”, etc., de que já tratamos no capítulo 49.<br />

Com efeito, elas estão sempre dirigidas ao “Senhor”, vale dizer Cristo (cf.<br />

M.C.r.l., 34 e.a), o Verbo encarnado. Se é sobretudo “em nossas vigílias” que<br />

devemos nos dedicar a esta prática – que virá a tornar-se mais tarde naquilo que<br />

conhecemos com o nome de “prece de Jesus” - é porque a noite nos protege<br />

melhor dos demônios indiscretos:<br />

Com lágrimas, à noite, invoque o Senhor, e que ninguém o veja – então<br />

você encontrará a graça. (Vg., 25)<br />

A tudo isso acrescentam-se os “remédios citados”, que são, para a parte<br />

concupiscente, os diferentes trabalhos de ascese (cf. Pr., 15), em uma palavra, a<br />

“abstinência” (Pr., 38); para a parte irascível Evagro prescreve “paciência” e<br />

“misericórdia” (Pr., 15), “compaixão” e “doçura” (Pr., 20), a “prestação de<br />

serviços aos doentes” (Pr., 91), em resumo as diferentes formas da caridade (Pr.,<br />

38). A ela acrescenta-se a “salmódia” (Pr., 15), sobretudo sob a forma da<br />

repetição meditativa de alguns versículos reconfortantes (cf. M.C.r.l., 22).<br />

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