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Evagrio-Pontico-Tratado-Practico-pdf

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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OS OITO PENSAMENTOS<br />

Evagro diz que a ebulição da cólera torna a alma “selvagem”, “bestial” poder-seia<br />

dizer (O. Sp., [IX] 4, 1). E aqui não devemos pensar apenas, nem em primeiro<br />

lugar, nos animais chamados de selvagens, mas antes de mais nada nos<br />

demônios à caça da “cólera” selvagem (K.G. I, 68) e da qual as “bestas<br />

selvagens” são justamente o símbolo (in Ps., LXXIII, 19).<br />

Um monge colérico é como um javali solitário que mal divisa alguém e já<br />

lhe arreganha os dentes. (O. Sp. , [IX], 4,4)<br />

Aqui, da mesma maneira, não devemos nos enganar pelo tom cáustico: este<br />

“javali” (cf. Sl. LXXIX, 14) que pisoteia a “vinha” da alma, é um símbolo de<br />

Satanás (in Ps., LXXIX, 13). Aquele que se deixa dominar pela cólera torna-se<br />

um “demônio”, uma “serpente basilisco” (Ep., LVI, 4.5).<br />

Esta cólera interior pode ter múltiplas causas e não somente, como aqui, uma<br />

ofensa (real ou suposta) que tenhamos sofrido pessoalmente. Como vimos no<br />

capítulo anterior, o demônio dedica-se habilmente a erguer, diante do olhar<br />

espiritual do monge, a visão daqueles a quem ele ama sendo maltratados e<br />

ultrajados das piores maneiras, a fim de colocá-lo em um estado de raiva<br />

impotente – embora aparentemente justificada (M.C., 16). “Ora, não há cólera<br />

justa contra o próximo” (Or., 24).<br />

A consequência desta ebulição de cólera interior, é que o espírito se enche de<br />

“imagens” desses ofensores e desses monstros, que tornam-se para ele<br />

verdadeiros “ídolos” (M.C., 27); assim, o espírito comporta-se em relação a eles<br />

como se se tratasse de pessoas reais, ou seja ele diz ou faz aquilo que é proibido<br />

(M.C.r.l., 24). E isto acontece precisamente no momento da prece, quando o<br />

espírito deveria estar inteiramente livre de tudo, principalmente de “imagens”<br />

desta espécie. Pois, na oração, é um verdadeiro “julgamento” que se institui<br />

sobre todo pecado da cólera, ainda que o mais ínfimo (Or., 12). Eis porque<br />

Evagro dá a maior atenção aos movimentos da cólera, qualquer que seja sua<br />

forma, de ressentimento ou de raiva tenazes, uma vez que a prece é o que coloca<br />

em movimento aquilo a que chamamos de “vida espiritual”:<br />

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