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Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto. De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

Evagro pertence a esta categoria de homens – relativamente frequente na história da Igreja – que conheceram um destino contraditório sob mais de um aspecto.
De início homem do mundo, torna-se humilde Padre do deserto. Quando vivo, foi tido em grande estima, para depois, muito tempo após sua morte, vir a ser desacreditado. “Pai de nossa literatura espiritual (O. Chadwick), mas cuja obra, ou quase toda ela, não foi logo transmitida senão por meio de traduções ou sob nomes emprestados... Quem então foi este homem?

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SOBRE AS PAIXÕES<br />

chamado de “grande”, é explicado pela estrutura global da pessoa humana. Pois<br />

a cólera tem sua sede no coração, “aonde está também a inteligência” (K.G., VI,<br />

84), de tal modo que a parte irascível perturbada “cega” o intelecto.<br />

Inversamente, o amor faz do intelecto um “vidente” (theoretikos) que o<br />

conhecimento de Deus “carrega consigo como sobre uma asa e arranca do<br />

mundo corporal” (Ep., XXVII, 4), subtraindo-o assim às tentações demoníacas.<br />

Evagro não deixa de fazer seu elogio deste amor “grande” e “santo”, que ele<br />

entende sempre como “doçura”, “mansidão” (Cf. Ep., 56). Pois “a doçura é a<br />

mãe do conhecimento (Ep., XXVII, 2).<br />

Testemunho disto é Moisés, “o mais doce dos homens” (Num., XII, 3), quem,<br />

justamente, em consideração a esta doçura foi “o único a captar as intelecções<br />

deste mundo” (Ep. XLI, 5), o que é atestado pelo seu “livro da natureza”, ou seja<br />

os cinco livros de Moisés que tratam das “naturezas” criadas (cf. K.G., II, 64;<br />

Ep. Mel., 37). Em grego, trata-se de uma espécie de gafanhoto que “combate as<br />

serpentes” (ophiomaques). Evagro retomou aqui este termo bizarro porque a<br />

serpente é evidentemente um símbolo do demônio, (cf. Ep., LVI, 4.5), e como<br />

ele está inteiramente sob o império da cólera (cf. Sl. LVII, 5).<br />

CAPÍTULO 39<br />

Ao mau odor que reina entre os demônios, a alma costuma inflamar-se<br />

pelos pensamentos, ao perceber sua aproximação, estando afetada pela<br />

paixão daquele que a atormenta. (tradução modificada pelo autor)<br />

Este capítulo nos permite uma visão interessante sobre a demonologia presente<br />

no meio monástico de Evagro e, em parte, nele próprio. O capítulo anterior<br />

designava a percepção sensível como fator de desencadeamento das paixões.<br />

Aqui são acrescentados os demônios como um outro fator; mais adiante, Evagro<br />

acrescentará ainda a memória.<br />

Segundo Evagro, o demônio também possui um corpo, como todos os seres<br />

criados,, cujo elemento principal (segundo Efe II, 2) é o ar (ou éter) (K.G., I,<br />

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