TEMAS DE COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
5I60JN6pE
5I60JN6pE
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Parte III – Criminalidade e Cooperação Internacional<br />
O crime organizado e a cooperação internacional<br />
Ricardo Andrade Saadi*<br />
O fenômeno da criminalidade é muito antigo. Alguns entendem que é fruto da forma<br />
de viver em sociedade, outros que é característica hereditária do criminoso. O fato é que se<br />
convive com o crime há muito tempo. Porém, de alguns séculos para cá, este se aperfeiçoou.<br />
Aos poucos, o criminoso deixou de atuar sozinho e passou a fazê-lo em grupos. A partir de<br />
então, nasceu a chamada criminalidade organizada. Os primeiros grupos organizados de<br />
que se tem notícia são as tríades chinesas, surgidas no século XVI. Posteriormente surgiram<br />
a Yakuza japonesa, as máfias italianas e outras organizações criminosas.<br />
Nas últimas décadas, está-se vivendo uma profunda transformação no mundo e,<br />
consequentemente, na criminalidade. Com a ascensão de um novo modelo econômico,<br />
principalmente a partir do final da década de 1980, o mundo passou por intenso processo<br />
de globalização. A nova política econômica teve como característica a desregulação da economia,<br />
de forma que o Estado pouco deveria intervir. Houve, também, o desenvolvimento<br />
tecnológico e das telecomunicações. Tudo isso possibilitou a globalização dos mercados.<br />
Tais fatos acarretaram o declínio da importância das fronteiras nacionais, permitindo<br />
que investimentos fossem feitos em qualquer parte do planeta, bem como quase livre circulação<br />
monetária internacional. Essa abertura econômica possibilitou maior intercâmbio<br />
de mercadorias e serviços e, por conseguinte, o mercado passou a desconhecer limites<br />
geográficos. Além dessas transformações, a informatização trouxe maior proximidade entre<br />
as pessoas, bem como o desenvolvimento tecnológico e das comunicações (principalmente<br />
a internet) e possibilitou o nascimento e o crescimento do comércio eletrônico.<br />
Sem dúvida, a democratização da tecnologia e da informação, o acesso aos mercados,<br />
de capitais e de mercadorias, de todo o mundo e a aproximação entre os povos trouxeram<br />
uma série de benefícios para a população.<br />
Os criminosos, porém, também se beneficiaram de toda essa mudança. O crime organizado<br />
aproveitou-se da globalização para expandir o alcance de suas atividades. Aqueles grupos<br />
criminosos que atuavam local ou regionalmente passaram a atuar de forma globalizada. Toda a<br />
facilidade de movimentação de pessoas e recursos que foi gerada pela globalização favoreceu<br />
a expansão do crime organizado, de forma que algumas organizações criminosas passaram a<br />
atuar em diversos países, deslocando-se conforme a necessidade e a “melhor oportunidade de<br />
mercado”. Recursos gerados pelo cometimento de crimes em um país – o Brasil, por exemplo – já<br />
* O autor é Delegado de Polícia Federal, atualmente exercendo o cargo de Diretor do Departamento de Recuperação<br />
de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça (DRCI/MJ). É formado em Direito<br />
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo<br />
(PUC-SP). É especialista em Direito Processual Civil pela PUC-SP, além de mestre e doutor em Direito Político e<br />
Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.<br />
139