Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
corpo—como <strong>um</strong> novo órgão de equilíbrio auxiliar, <strong>um</strong><br />
par de grandes proprioceptores em forma de asa. A<br />
medida <strong>que</strong> os pacientes vão adquirin<strong>do</strong> prática e isso<br />
se torna <strong>um</strong>a segunda natureza, eles passam a ser<br />
capazes de ficar em p<strong>é</strong> e andar — não com perfeição,<br />
mas com segurança, confiança e facilidade.<br />
Extraordinários foram a solicitude e o engenho de<br />
Pur<strong>do</strong>n Martin na criação de diversos mecanismos e<br />
m<strong>é</strong>to<strong>do</strong>s para possibilitar,<br />
91<br />
at<strong>é</strong> mesmo aos parkinsonianos mais gravemente<br />
incapacita<strong>do</strong>s, adquirir <strong>um</strong>a normalidade artificial no<br />
andar e na postura: linhas pintadas no chão,<br />
contrapesos no cinto, marca passo com som alto para<br />
marcar a cadência <strong>do</strong> andar. Para isso, ele sempre<br />
aprendeu com seus pacientes (a <strong>que</strong>m, de fato, seu<br />
grande <strong>livro</strong> foi dedica<strong>do</strong>). Ele foi <strong>um</strong> pioneiro<br />
profundamente h<strong>um</strong>ano e, em sua medicina, a<br />
compreensão e a colaboração eram fundamentais:<br />
paciente e m<strong>é</strong>dico eram co-iguais, estavam no mesmo<br />
nível, cada <strong>um</strong> aprenden<strong>do</strong> com o outro, ajudan<strong>do</strong> o<br />
outro e entre eles chegan<strong>do</strong> a novas percepções e<br />
tratamentos. Mas, <strong>que</strong> eu soubesse, ele não concebera<br />
<strong>um</strong>a prótese para corrigir a inclinação e os reflexos<br />
vestibulares superiores prejudica<strong>do</strong>s, o problema <strong>que</strong><br />
afligia o sr. MacGregor.<br />
”Então <strong>é</strong> isso, não <strong>é</strong>?”, perguntou o sr. MacGregor.<br />
”Não posso usar o nível de bolha <strong>que</strong> tenho na cabeça.<br />
Não posso usar os ouvi<strong>do</strong>s, mas posso usar os olhos”.<br />
Curioso, para experimentar, ele inclinou a cabeça para<br />
<strong>um</strong> la<strong>do</strong>: ”As coisas parecem iguais agora — o mun<strong>do</strong><br />
não se inclina”. Pediu então <strong>um</strong> espelho, e mandei <strong>que</strong><br />
trouxessem <strong>um</strong>, bem longo, e o colocassem diante dele.<br />
”Agora eu me vejo inclina<strong>do</strong>”, ele disse. ”Agora posso<br />
me endireitar — talvez pudesse me manter ereto... Mas<br />
não posso viver entre espelhos ou ficar carregan<strong>do</strong> <strong>um</strong><br />
comigo para to<strong>do</strong> la<strong>do</strong>”.<br />
Voltou a pensar, de sobrancelhas franzidas com a