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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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engraça<strong>do</strong> são despeja<strong>do</strong>s em <strong>um</strong>a torrente rápida, não<br />

seletiva, meio fabulatória [...] Ela pode contradizer-se<br />

por completo depois de alguns segun<strong>do</strong>s [...] diz <strong>que</strong><br />

a<strong>do</strong>ra música, <strong>que</strong> não gosta, <strong>que</strong> tem <strong>um</strong> quadril<br />

fratura<strong>do</strong>, <strong>que</strong> não tem [...]<br />

Concluí minhas observações com<strong>um</strong> tom de<br />

incerteza:<br />

Quanto disso será fabulação de criptamn<strong>é</strong>sia, quanto<br />

de equalização indiferença <strong>do</strong> lobo frontal, quanto de<br />

alg<strong>um</strong>a estranha desintegração esquizofrênica e<br />

fragmentação-embotamento?<br />

De todas as formas de ”esquizofrenia”, a ”bobafeliz”,<br />

a chamada ”hebefrênica”, <strong>é</strong> a <strong>que</strong> mais lembra as<br />

síndromes orgânico amn<strong>é</strong>sicas e <strong>do</strong> lobo frontal. São as<br />

mais malignas e as menos imagináveis — e ningu<strong>é</strong>m<br />

retorna desses esta<strong>do</strong>s para nos contar como eles são<br />

senti<strong>do</strong>s.<br />

Em to<strong>do</strong>s esses esta<strong>do</strong>s — por mais ”engraça<strong>do</strong>s” e<br />

muitas vezes inventivos <strong>que</strong> possam parecer — o<br />

mun<strong>do</strong> <strong>é</strong> afasta<strong>do</strong>, solapa<strong>do</strong>, reduzi<strong>do</strong> à anarquia e ao<br />

caos. Deixa de existir <strong>um</strong> ”centro” da mente, embora as<br />

capacidades intelectuais formais desta possam estar<br />

perfeitamente preservadas. O ponto final desses<br />

esta<strong>do</strong>s <strong>é</strong> <strong>um</strong>a insondável ”tolice”, <strong>um</strong> abismo de<br />

superficialidade no qual tu<strong>do</strong> perde seu alicerce, fica à<br />

deriva e se despedaça. Luria mencionou<br />

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certa vez <strong>que</strong> a mente, em tais esta<strong>do</strong>s, reduz-se a <strong>um</strong><br />

”mero movimento browniano”. Sinto tamb<strong>é</strong>m a esp<strong>é</strong>cie<br />

de horror <strong>que</strong> ele claramente sentia com relação a<br />

esses esta<strong>do</strong>s (embora o horror incite, em vez de<br />

impedir, sua descrição precisa). Eles me lembram,<br />

primeiro, o ”Funes” de Borges e seu comentário:<br />

”Minha memória, senhor, <strong>é</strong> como <strong>um</strong> monte de lixo”, e<br />

por fim a Duncíada, a visão de <strong>um</strong> mun<strong>do</strong> reduzi<strong>do</strong> a<br />

Pura Tolice — a Tolice como o Fim <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>:<br />

Tua mão, grande Anarca, deixa cair ás cortinas; E a

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