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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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os últimos dias de sua vida.<br />

PÓS-ESCRITO<br />

Como explicar a singular incapacidade <strong>do</strong> dr. P. para<br />

interpretar, para avaliar <strong>um</strong>a luva como <strong>um</strong>a luva?<br />

Manifestamente neste caso ele não conseguia fazer <strong>um</strong><br />

julgamento cognitivo, embora fosse f<strong>é</strong>rtil na produção<br />

de hipóteses cognitivas. Um julgamento <strong>é</strong> intuitivo,<br />

pessoal, abrangente e concreto — nós ”vemos” como as<br />

coisas são em relação <strong>um</strong>as às outras e a si mesmas.<br />

Era precisamente essa disposição, esse<br />

estabelecimento de relações <strong>que</strong> faltava ao dr. P.<br />

(embora sua capacidade de julgamento, em todas as<br />

outras esferas, fosse imediata e normal). Seria isso<br />

devi<strong>do</strong> à ausência de informações visuais ou a <strong>um</strong><br />

processamento deficiente das informações visuais?<br />

(Esta teria si<strong>do</strong> a explicação dada por <strong>um</strong>a neurologia<br />

clássica, es<strong>que</strong>mática.) Ou haveria algo erra<strong>do</strong> na<br />

atitude <strong>do</strong> dr. P., de mo<strong>do</strong> <strong>que</strong> ele não conseguia<br />

relacionar consigo mesmo o <strong>que</strong> via?<br />

Essas explicações, ou mo<strong>do</strong>s de explicação, não são<br />

mutuamente excludentes — estan<strong>do</strong> em mo<strong>do</strong>s<br />

diferentes, elas podem coexistir e ser ambas<br />

verdadeiras. E isso <strong>é</strong> reconheci<strong>do</strong>, implícita ou<br />

explicitamente, pela neurologia clássica:<br />

implicitamente por Macrae, quan<strong>do</strong> ele julga<br />

inadequada a explicação <strong>do</strong>s es<strong>que</strong>mas deficientes, ou<br />

processamento e integração visual deficientes;<br />

explicitamente por Goldstein, quan<strong>do</strong> fala em ”atitude<br />

abstrata”. Mas a atitude abstrata, <strong>que</strong> permite a<br />

”categorização”, tamb<strong>é</strong>m não se aplica ao caso <strong>do</strong> dr.<br />

P. e, talvez, ao conceito de ”julgamento” de <strong>um</strong> mo<strong>do</strong><br />

geral. Pois o dr. P. tinha <strong>um</strong>a atitude abstrata — de<br />

fato, nada al<strong>é</strong>m dela. E era exatamente essa sua<br />

absurda abstração de atitudes — absurda por<strong>que</strong> não<br />

temperada por qual<strong>que</strong>r outra coisa<br />

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<strong>que</strong> o tornava incapaz de perceber a identidade ou as

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