19.04.2013 Views

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

equilibra<strong>do</strong> no espaço — estes só foram defini<strong>do</strong>s em<br />

nosso s<strong>é</strong>culo e ainda encerram muitos mist<strong>é</strong>rios. Talvez<br />

apenas nesta era espacial, com a liberdade e perigos<br />

para<strong>do</strong>xais da vida sem gravidade, <strong>é</strong> <strong>que</strong><br />

verdadeiramente iremos apreciar nossos ouvi<strong>do</strong>s<br />

internos, nossos vestíbulos e to<strong>do</strong>s os demais<br />

receptores e reflexos obscuros <strong>que</strong> governam nossa<br />

orientação corporal. Para o homem normal, em<br />

situações normais, eles simplesmente não existem.<br />

No entanto, sua ausência pode ser muito marcante.<br />

Se existe <strong>um</strong>a sensação deficiente (ou distorcida) em<br />

nossos senti<strong>do</strong>s secretos menospreza<strong>do</strong>s, o <strong>que</strong><br />

sentimos <strong>é</strong> imensamente estranho, <strong>um</strong> equivalente<br />

quase incomunicável de ser cego ou sur<strong>do</strong>. Se a<br />

propriocepção for totalmente danificada, o corpo tornase,<br />

por assim dizer, cego e sur<strong>do</strong> para si mesmo — e<br />

(como indica o significa<strong>do</strong> da raiz latina proprius) deixa<br />

de ”possuir” a si mesmo, de sentir-se como ele próprio<br />

(ver o capítulo 3, ”A mulher desencarnada”).<br />

O velho subitamente ficou atento, cerrou o cenho,<br />

apertou os lábios. Que<strong>do</strong>u-se imóvel, refletin<strong>do</strong><br />

profundamente, exibin<strong>do</strong> o quadro <strong>que</strong> a<strong>do</strong>ro<br />

presenciar: <strong>um</strong> paciente no verdadeiro momento de<br />

89<br />

descoberta — meio espanta<strong>do</strong>, meio diverti<strong>do</strong> —<br />

perceben<strong>do</strong> pela primeira vez exatamente o <strong>que</strong> está<br />

erra<strong>do</strong> e, no mesmo momento, exatamente o <strong>que</strong> deve<br />

ser feito. Esse <strong>é</strong> o momento terapêutico.<br />

”Deixe-me pensar, deixe-me pensar”, murmurou<br />

para si mesmo, fechan<strong>do</strong> as sobrancelhas brancas<br />

desgrenhadas sobre os olhos e marcan<strong>do</strong> cada<br />

arg<strong>um</strong>ento com as fortes mãos no<strong>do</strong>sas. ”Deixe-me<br />

pensar. Pense comigo—tem de haver <strong>um</strong>a resposta! Eu<br />

me inclino para <strong>um</strong> la<strong>do</strong> e não consigo perceber, certo?<br />

Deveria haver alg<strong>um</strong>a sensação, <strong>um</strong> sinal claro, mas<br />

não há, certo?” Fez <strong>um</strong>a pausa. ”Eu era carpinteiro”,<br />

disse ele, e seu rosto il<strong>um</strong>inou-se. ”Sempre podemos<br />

usar <strong>um</strong> nível de bolha para saber se <strong>um</strong>a superfície

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!