Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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como ator. *Nenh<strong>um</strong> de nós tinha notícia de <strong>um</strong><br />
paciente assim experimentan<strong>do</strong> novamente, ou melhor,<br />
reencenan<strong>do</strong>, <strong>um</strong> ato — mas isso, ao <strong>que</strong> parecia, era o<br />
<strong>que</strong> estava acontecen<strong>do</strong> com Donald. Não se chegou<br />
jamais a <strong>um</strong>a conclusão definitiva.<br />
Só falta agora contar o resto da história. Juventude,<br />
sorte, tempo, cura natural, função pós-tra<strong>um</strong>ática<br />
superior, ajuda<strong>do</strong>s por <strong>um</strong>a terapia inspirada em Luria<br />
para a ”substituição” <strong>do</strong> lobo frontal, permitiram a<br />
Donald, com o passar <strong>do</strong>s anos, <strong>um</strong>a enorme<br />
recuperação. Suas funções <strong>do</strong> lobo frontal hoje em dia<br />
estão quase normais. O uso de novos anticonvulsivos,<br />
disponíveis apenas em anos recentes, possibilitou <strong>um</strong><br />
controle eficaz da agitação nos lobos temporais—e aqui,<br />
mais <strong>um</strong>a vez, a recuperação natural provavelmente<br />
teve seu papel. Finalmente, com <strong>um</strong>a psicoterapia<br />
regular baseada na sensibilidade e no amparo, a<br />
violência punitiva <strong>do</strong> superego auto-acusa<strong>do</strong>r de<br />
Donald foi mitigada, e hoje pre<strong>do</strong>mina o julgamento<br />
mais bran<strong>do</strong> <strong>do</strong> ego. Mas o aspecto final, mais<br />
importante, <strong>é</strong> este: Donald retomou a jardinagem. ”Eu<br />
me sinto em paz cuidan<strong>do</strong> das plantas”, ele me disse.<br />
”Não surgem conflitos. As plantas não têm ego. Não<br />
podem ferir nossos sentimentos”. A terapia decisiva,<br />
como apontou Freud, <strong>é</strong> trabalho e amor.<br />
Donald não es<strong>que</strong>ceu ou tornou a reprimir coisa<br />
alg<strong>um</strong>a<br />
NR<br />
* Entretanto, isso não ocorreu invariavelmente. Em <strong>um</strong><br />
caso particularmente me<strong>do</strong>nho e tra<strong>um</strong>ático registra<strong>do</strong><br />
por Penfield, a paciente, <strong>um</strong>a menina de <strong>do</strong>ze anos,<br />
tinha em cada ata<strong>que</strong> a sensação de estar fugin<strong>do</strong><br />
desesperadamente de <strong>um</strong> assassino <strong>que</strong> a perseguia<br />
com <strong>um</strong> saco fervilhan<strong>do</strong> de serpentes. Essa<br />
”alucinação experimental” era <strong>um</strong>a reprodução precisa<br />
de <strong>um</strong> incidente pavoroso real <strong>que</strong> ocorrera cinco anos<br />
antes.