Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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ecordações <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> remoto. Mais tarde, quan<strong>do</strong><br />
escrevi a história dessa paciente (Rose R.) em Tempo<br />
de despertar, pensei menos em termos de<br />
”reminiscência” e mais de ”parada” (”Será <strong>que</strong> ela<br />
nunca saiu de 1926?”, escrevi), e <strong>é</strong> nesses termos <strong>que</strong><br />
Harold Pinter retrata ”Deborah” em sua peça A kind of<br />
Alaska.<br />
Um <strong>do</strong>s efeitos mais espantosos da levo<strong>do</strong>pa quan<strong>do</strong><br />
administrada a determina<strong>do</strong>s pacientes pósencefalíticos<br />
<strong>é</strong> a reativação de sintomas e padrões de<br />
comportamento presentes em <strong>um</strong> estágio muito<br />
anterior da <strong>do</strong>ença, mas subseqüentemente ”perdi<strong>do</strong>s”.<br />
Já comentamos, a esse respeito, sobre a exacerbação<br />
ou recorrência de crises respiratórias, crises oculógiras,<br />
hipercineses iterativas e ti<strong>que</strong>s. Observamos, tamb<strong>é</strong>m,<br />
a reativação de muitos outros sintomas ”a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong>s”,<br />
primitivos, como mioclono, bulimia, polidipsia,<br />
satiríase, <strong>do</strong>r central, tono emocional força<strong>do</strong> etc. Em<br />
níveis de função ainda mais complexos, verificamos o<br />
retorno e a reativação de posturas morais, sistemas de<br />
pensamento, sonhos e recordações complexos e com<br />
carga afetiva to<strong>do</strong>s ”es<strong>que</strong>ci<strong>do</strong>s”, reprimi<strong>do</strong>s ou de<br />
outra forma inativos no limbo da <strong>do</strong>ença pósencefalítica<br />
intensamente acin<strong>é</strong>tica e às vezes apática.<br />
170<br />
Um exemplo marcante de reminiscência forçada<br />
induzida por levo<strong>do</strong>pa foi observa<strong>do</strong> no caso de <strong>um</strong>a<br />
mulher de 63 anos <strong>que</strong> apresentava parkinsonismo pósencefaiítico<br />
progressivo desde os dezoito anos e ficara<br />
internada em <strong>um</strong> esta<strong>do</strong> de ”transe” oculógiro quase<br />
contínuo por 24 anos. A levo<strong>do</strong>pa, de início, libertou<br />
notavelmente a paciente <strong>do</strong> parkinsonismo e transe<br />
oculógiro, permitin<strong>do</strong>-lhe falar e movimentar-se de<br />
maneira quase normal. Logo em seguida, surgiram<br />
(como ocorreu com vários de nossos pacientes)<br />
excitação psicomotora e intensificação da libi<strong>do</strong>. Esse<br />
perío<strong>do</strong> foi marca<strong>do</strong> por nostalgia, identificação<br />
prazerosa com <strong>um</strong> eu mais jovem e surto incontrolável