Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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a <strong>do</strong>ença <strong>que</strong> leva seu nome não no consultório, mas<br />
nas apinhadas ruas de Londres. Realmente, o<br />
parkinsonismo não pode ser totalmente visto,<br />
compreendi<strong>do</strong> na clínica; re<strong>que</strong>r <strong>um</strong> espaço aberto,<br />
intricadamente interativo para a plena revelação de seu<br />
caráter singular (primorosamente mostra<strong>do</strong> no filme<br />
Ivan, de Jonathan Miller). O parkinsonismo tem de ser<br />
visto, totalmente compreendi<strong>do</strong>, no mun<strong>do</strong>; e, se isso<br />
vale para o parkinsonismo, deve valer ainda mais para<br />
a síndrome de Tourette. Encontramos <strong>um</strong>a descrição<br />
admirável, de punho próprio, de <strong>um</strong> tic<strong>que</strong>ur imita<strong>do</strong>r e<br />
brincalhão das ruas de Paris em ”Lês confidences d’un<br />
tic<strong>que</strong>ur”, no prefácio <strong>do</strong> grande <strong>livro</strong> Tics, de<br />
141<br />
Meige e Feidel (1901); <strong>um</strong> esboço de <strong>um</strong> tic<strong>que</strong>ur<br />
maneirista, tamb<strong>é</strong>m das ruas parisienses, foi deixa<strong>do</strong><br />
pelo poeta Rilke em The notebook of Malte Laurids<br />
Brigge. Assim, a grande revelação para mim não<br />
proveio apenas de ter observa<strong>do</strong> Ray no consultório,<br />
mas <strong>do</strong> <strong>que</strong> vi no dia seguinte. E <strong>um</strong>a cena, em<br />
especial, foi tão singular <strong>que</strong> permanece hoje tão vivida<br />
em minha memória quanto no dia em <strong>que</strong> a vi.<br />
Atraiu-me a atenção <strong>um</strong>a mulher grisalha,<br />
sexagenária, <strong>que</strong> aparentemente era o centro de <strong>um</strong>a<br />
agitação espantosa, embora o <strong>que</strong> estava acontecen<strong>do</strong>,<br />
o <strong>que</strong> era tão perturba<strong>do</strong>r, não ficou claro para mim a<br />
princípio. Ela estaria ten<strong>do</strong> <strong>um</strong> ata<strong>que</strong>? Que diabos a<br />
estava convulsionan<strong>do</strong> e, por <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de afinidade<br />
ou contágio, convulsionan<strong>do</strong> tamb<strong>é</strong>m to<strong>do</strong>s por <strong>que</strong>m<br />
ela passava, rilhan<strong>do</strong> os dentes e cheia de ti<strong>que</strong>s?<br />
Quan<strong>do</strong> me aproximei, percebi o <strong>que</strong> estava<br />
acontecen<strong>do</strong>. Ela estava imitan<strong>do</strong> os passantes — se <strong>é</strong><br />
<strong>que</strong> ”imitação” não <strong>é</strong> <strong>um</strong>a palavra demasia<strong>do</strong> fraca,<br />
passiva. Seria melhor dizer <strong>que</strong> ela estava<br />
caricaturan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>que</strong> passava? Em <strong>um</strong><br />
segun<strong>do</strong>, <strong>um</strong>a fração de segun<strong>do</strong>, ela ”fazia” to<strong>do</strong>s<br />
eles.<br />
Já vi inúmeras imitações e mímicas, palhaços e