Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
sensata, não se preocupou.<br />
No dia anterior ao da cirurgia, ela, <strong>que</strong> normalmente<br />
não era dada a fantasias ou sonhos, teve <strong>um</strong> sonho<br />
perturba<strong>do</strong>r de <strong>um</strong>a intensidade singular. No sonho ela<br />
oscilava fortemente, estava insegura das pernas, mal<br />
sentia o chão sob seus p<strong>é</strong>s, quase não conseguia sentir<br />
as coisas nas mãos, <strong>que</strong> ficavam sacudin<strong>do</strong> a esmo em<br />
todas as direções, deixan<strong>do</strong> cair tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> ela tentava<br />
segurar.<br />
O sonho a deixou aflita. (”Nunca tive <strong>um</strong> assim”,<br />
comentou. ”Não consigo tirá-lo da cabeça”). Tão aflita<br />
<strong>que</strong> pedimos a opinião <strong>do</strong> psiquiatra. ”Ansiedade pr<strong>é</strong>operatória”,<br />
declarou ele. Ӄ natural, vemos casos<br />
assim com muita freqüência”.<br />
Por<strong>é</strong>m, mais tarde, na<strong>que</strong>le dia, o sonho tornou-se<br />
realidade. Christina de fato descobriu <strong>que</strong> estava<br />
insegura das pernas, com movimentos desastra<strong>do</strong>s<br />
para to<strong>do</strong> la<strong>do</strong>, deixan<strong>do</strong> cair o <strong>que</strong> tinha nas mãos.<br />
O psiquiatra foi outra vez convoca<strong>do</strong> — pareceu<br />
irrita<strong>do</strong> com o chama<strong>do</strong>, mas tamb<strong>é</strong>m,<br />
momentaneamente, incerto e confuso. ”Ansiedade<br />
hist<strong>é</strong>rica”, decretou dessa vez, com rispidez e<br />
s<strong>um</strong>ariamente. ”Típicos sintomas de conversão—vemos<br />
isso o tempo to<strong>do</strong>”.<br />
Mas no dia da cirurgia Christina estava ainda pior.<br />
Ficar em p<strong>é</strong> era impossível — a menos <strong>que</strong> ela olhasse<br />
para os p<strong>é</strong>s. Ela não conseguia segurar nada nas mãos,<br />
<strong>que</strong> ”vagueavam”, a menos <strong>que</strong> mantivesse os olhos<br />
fixos nelas. Quan<strong>do</strong> tentava estender as mãos para<br />
pegar alg<strong>um</strong>a coisa ou para se alimentar, as mãos<br />
erravam grotescamente o alvo, como se alg<strong>um</strong> controle<br />
ou coordenação essencial houvesse desapareci<strong>do</strong>.<br />
Ela quase não podia sentar-se—seu corpo ”cedia”.<br />
Tinha o rosto estranhamente sem expressão, frouxo, a<br />
mandíbula caída; at<strong>é</strong> mesmo a postura vocal<br />
desaparecera.<br />
”Alg<strong>um</strong>a coisa terrível aconteceu”, falou com a voz<br />
arrastada, fantasmagoricamente monótona. ”Não