Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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ocorre com a paciente de Viscott—, mas esse mun<strong>do</strong> <strong>é</strong><br />
real, torna Martin real, pode transformá-lo. Isso <strong>é</strong><br />
fascinante de se ver no caso de Martin — e,<br />
evidentemente, tamb<strong>é</strong>m no de Harriet G.:<br />
Essa senhora desengonçada, desajeitada,<br />
deselegante, essa criança de cinco anos demasia<strong>do</strong><br />
crescida, transformou-se totalmente quan<strong>do</strong> lhe pedi<br />
<strong>que</strong> tocasse em <strong>um</strong> seminário no Hospital Psiquiátrico<br />
de Boston. Ela sentou circunspecta, fitou tranqüila o<br />
tecla<strong>do</strong> at<strong>é</strong> <strong>que</strong> to<strong>do</strong>s fiz<strong>é</strong>ssemos silêncio, levou<br />
lentamente as mãos ao tecla<strong>do</strong> e as deixou ali em<br />
repouso por <strong>um</strong> momento. Então, meneou a cabeça e<br />
começou a tocar com to<strong>do</strong> o sentimento e movimentos<br />
de <strong>um</strong> solista profissional. A partir da<strong>que</strong>le momento,<br />
ela foi outra pessoa.<br />
Fala-se <strong>do</strong>s ”sábios idiotas” como se eles tivessem<br />
<strong>um</strong>a aptidão ou talento mecânico singular, sem <strong>um</strong>a<br />
verdadeira inteligência ou compreensão. De fato, isso<br />
foi o <strong>que</strong> pensei de início com relação a Martin — e <strong>que</strong><br />
continuei a pensar at<strong>é</strong> <strong>que</strong> trouxe o Magnificai para o<br />
asilo. Só então realmente ficou claro para mim <strong>que</strong><br />
Martin era capaz de entender toda a complexidade de<br />
<strong>um</strong>a obra como a<strong>que</strong>la e <strong>que</strong> não se tratava apenas de<br />
<strong>um</strong>a aptidão, ou de <strong>um</strong>a notável memória maquinai em<br />
ação, mas de <strong>um</strong>a genuína e poderosa<br />
214<br />
inteligência musical. Por isso, interessei-me<br />
particularmente depois da primeira publicação <strong>do</strong> <strong>livro</strong>,<br />
por <strong>um</strong> fascinante artigo <strong>que</strong> recebi de L. K. Miller, de<br />
Chicago, intitula<strong>do</strong> ”Sensitivity to tonai structure in a<br />
developmentally disabled musical savant”<br />
[Sensibilidade para a estrutura tonai em <strong>um</strong> sábio<br />
musical com deficiência de desenvolvimento],<br />
apresenta<strong>do</strong> à Psychonomics Society [Sociedade de<br />
Psiconomia] de Boston em novembro de 1985 (no<br />
prelo). O estu<strong>do</strong> meticuloso desse prodígio de cinco<br />
anos de idade, com graves deficiências mentais e<br />
outras incapacitações causadas por rub<strong>é</strong>ola materna,