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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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consigo sentir meu corpo. Eu me sinto esquisita —<br />

desencarnada”.<br />

Era espantoso ouvir aquilo, horrível, perturba<strong>do</strong>r.<br />

”Desencarnada” — ela teria enlou<strong>que</strong>ci<strong>do</strong>? Mas então<br />

como explicar seu esta<strong>do</strong> físico? O colapso <strong>do</strong> tono e<br />

postura muscular, da cabeça aos p<strong>é</strong>s, o desgoverno das<br />

mãos, <strong>que</strong> ela parecia não sentir, as sacudidelas <strong>do</strong>s<br />

membros e a incapacidade de alcançar com as mãos o<br />

<strong>que</strong> mirava,<br />

62<br />

como se ela não estivesse receben<strong>do</strong> informações da<br />

periferia, como se os arcos de controle <strong>do</strong> tono e<br />

movimento se houvessem rompi<strong>do</strong> catastroficamente.<br />

”E <strong>um</strong>a afirmação estranha”, falei para os residentes.<br />

”É quase impossível imaginar o <strong>que</strong> poderia provocar<br />

<strong>um</strong>a afirmação como essa”.<br />

”Mas <strong>é</strong> histeria, <strong>do</strong>utor <strong>Sacks</strong> — o psiquiatra não<br />

disse?”<br />

”Sim, ele disse. Mas vocês já viram alg<strong>um</strong>a histeria<br />

como essa? Pensem fenomenologicamente, considerem<br />

o <strong>que</strong> vêem como <strong>um</strong> fenômeno genuíno, no qual o<br />

esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo e o esta<strong>do</strong> de espírito da paciente não<br />

são ficções, mas <strong>um</strong> to<strong>do</strong> psicofisiológico. Poderia<br />

alg<strong>um</strong>a coisa gerar <strong>um</strong> quadro de corpo e mente assim<br />

abala<strong>do</strong>s?<br />

”Não estou testan<strong>do</strong> vocês”, acrescentei. ”Estou tão<br />

perplexo quanto vocês estão. Nunca vi nem imaginei<br />

<strong>um</strong>a coisa como essa...”<br />

Pensei, eles pensaram, pensamos juntos.<br />

”Poderia ser <strong>um</strong>a síndrome biparietal?”, perguntou<br />

<strong>um</strong> deles.<br />

”É ’como se’”, respondi. ”Como se os lobos parietais<br />

não estivessem obten<strong>do</strong> suas informações sensoriais de<br />

cost<strong>um</strong>e. Façamos alguns testes sensoriais — e<br />

testemos tamb<strong>é</strong>m a função <strong>do</strong> lobo parietal”.<br />

Assim fizemos, e <strong>um</strong> quadro começou a evidenciarse.<br />

Parecia haver <strong>um</strong> d<strong>é</strong>ficit proprioceptivo muito<br />

grande, quase total, <strong>que</strong> ia <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s p<strong>é</strong>s à

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