Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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”reminiscência” e d<strong>é</strong>jà vu associa<strong>do</strong>s a intensas<br />
alucinações <strong>do</strong> olfato — são característicos de ”ata<strong>que</strong>s<br />
uncina<strong>do</strong>s”, <strong>um</strong>a forma de epilepsia <strong>do</strong> lobo temporal<br />
descrita pela primeira vez por Hughlmgs Jackson a<br />
cerca de <strong>um</strong> s<strong>é</strong>culo Em geral, a experiência <strong>é</strong> muito<br />
específica, mas ocasionalmente ocorre <strong>um</strong>a<br />
intensificação geral <strong>do</strong> olfato, <strong>um</strong>a hiperosmia O<br />
gancho <strong>do</strong> hipocampo, filogeneticamente <strong>um</strong>a parte <strong>do</strong><br />
antigo ”c<strong>é</strong>rebro olfativo” (ou nnenc<strong>é</strong>falo), tem<br />
associação funcionai com to<strong>do</strong> o sistema límbico, o qual<br />
vem sen<strong>do</strong> cada vez mais reconheci<strong>do</strong> como crucial<br />
para determinar e regular to<strong>do</strong> o ”tono” emocional A<br />
excitação deste, por qual<strong>que</strong>r meio, produz<br />
emotividade acentuada e intensificação <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s<br />
To<strong>do</strong> esse tema, com suas fascinantes ramificações, foi<br />
estuda<strong>do</strong> minuciosamente por David Bear (1979).<br />
Fim de NR<br />
177<br />
De maneira muito súbita, após três semanas, essa<br />
estranha transformação cessou — seu senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> olfato,<br />
to<strong>do</strong>s os seus senti<strong>do</strong>s, voltaram ao normal; ele se viu<br />
novamente, com <strong>um</strong>a sensação <strong>que</strong> era <strong>um</strong> misto de<br />
perda e alívio, em seu antigo mun<strong>do</strong> de palidez, de<br />
senti<strong>do</strong>s d<strong>é</strong>beis, de não-concretude e abstração. ”Estou<br />
feliz por ter volta<strong>do</strong>”, ele comentou, ”mas <strong>é</strong> <strong>um</strong>a perda<br />
enorme, tamb<strong>é</strong>m. Agora percebo o <strong>que</strong> deixamos de<br />
la<strong>do</strong> por sermos civiliza<strong>do</strong>s e h<strong>um</strong>anos. Tamb<strong>é</strong>m<br />
precisamos <strong>do</strong> outro — <strong>do</strong> ’primitivo.’”<br />
Dezesseis anos se passaram — e os tempos de<br />
estudante, de anfetaminas, ficaram bem para trás.<br />
Nunca mais houve recorrência de coisa alg<strong>um</strong>a<br />
remotamente semelhante. O dr. D. <strong>é</strong> <strong>um</strong> jovem clínico<br />
geral muito bem-sucedi<strong>do</strong>, meu amigo e colega em<br />
Nova York. Ele não lamenta — mas às vezes sente<br />
saudades: ”O mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cheiros, o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
aromas”, exclama, ”tão vivi<strong>do</strong>, tão real! Foi como <strong>um</strong>a<br />
visita a <strong>um</strong> outro mun<strong>do</strong>, <strong>um</strong> mun<strong>do</strong> de pura percepção,<br />
rico, vivo, auto-suficiente e pleno. Como eu gostaria de