Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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”apresenta<strong>do</strong>s” no show anual <strong>do</strong> hospital em <strong>que</strong><br />
trabalho — e em suas não raras, e muito embaraçosas,<br />
aparições na tevê.<br />
Os ”fatos”, nessas circunstâncias, são demonstra<strong>do</strong>s<br />
at<strong>é</strong> se tornarem monótonos. Os gêmeos pedem:<br />
”Digam-nos <strong>um</strong>a data — qual<strong>que</strong>r data nos últimos ou<br />
próximos 40 mil anos”. Uma data <strong>é</strong> mencionada e,<br />
quase instantaneamente, eles informam em <strong>que</strong> dia da<br />
semana ela cairá. ”Outra data!”, bradam eles, e a<br />
proeza se repete. Eles tamb<strong>é</strong>m dizem a data da Páscoa<br />
durante o mesmo perío<strong>do</strong> de 80 mil anos. Podemos<br />
observar, embora isso não seja normalmente<br />
menciona<strong>do</strong> nos relatórios, <strong>que</strong> seus olhos movem-se e<br />
se fixam de maneira singular quan<strong>do</strong> se dedicam a essa<br />
operação — como se estivessem desenrolan<strong>do</strong>, ou<br />
examinan<strong>do</strong> minuciosamente, <strong>um</strong>a paisagem interior,<br />
<strong>um</strong> calendário mental. Parecem estar ”ven<strong>do</strong>”,<br />
visualizan<strong>do</strong> intensamente, apesar de ter si<strong>do</strong><br />
concluí<strong>do</strong> <strong>que</strong> se tratava de puro cálculo.<br />
Sua memória para algarismos <strong>é</strong> notável — e<br />
possivelmente ilimitada. Eles repetem <strong>um</strong> número de<br />
três dígitos, de trinta dígitos, de trezentos dígitos com<br />
a mesma facilidade. Tamb<strong>é</strong>m isso foi atribuí<strong>do</strong> a <strong>um</strong><br />
”m<strong>é</strong>to<strong>do</strong>”.<br />
Mas quan<strong>do</strong> algu<strong>é</strong>m testa sua habilidade para<br />
calcular—a típica especialidade de prodígios em<br />
aritm<strong>é</strong>tica e ”calcula<strong>do</strong>res mentais” — seus resulta<strong>do</strong>s<br />
são espantosamente ruins, tão ruins quanto seu QI de<br />
sessenta nos faria imaginar. Eles são incapazes de<br />
fazer corretamente adições ou subtrações simples, e<br />
nem se<strong>que</strong>r conseguem compreender o <strong>que</strong> significa<br />
multiplicação ou divisão. O <strong>que</strong> <strong>é</strong> isto: ”calcula<strong>do</strong>res”<br />
<strong>que</strong> não sabem calcular e não têm nem mesmo as mais<br />
rudimentares habilidades aritm<strong>é</strong>ticas?<br />
E, no entanto eles são chama<strong>do</strong>s de ”calcula<strong>do</strong>res de<br />
calendário” — e tem si<strong>do</strong> inferi<strong>do</strong> ou aceito,<br />
praticamente sem fundamentos, <strong>que</strong> não se trata<br />
absolutamente da memória em ação, mas <strong>do</strong> uso de <strong>um</strong>