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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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Então o ”eu” pre<strong>do</strong>mina e reina sobre a ”coisa”.<br />

Tive o privil<strong>é</strong>gio de me corresponder com o grande<br />

neuropsicólogo A. R. Luria entre o ano de 1973 e o de<br />

sua morte, 1977, e muitas vezes lhe enviei observações<br />

e fitas de vídeo gravadas sobre a síndrome de Tourette.<br />

Em <strong>um</strong>a das últimas cartas <strong>que</strong> me enviou, ele<br />

escreveu: ”Isso <strong>é</strong> verdadeiramente de <strong>um</strong>a importância<br />

tremenda. Qual<strong>que</strong>r compreensão de <strong>um</strong>a síndrome<br />

como essa irá sem dúvida ampliar muito nossa<br />

compreensão da natureza h<strong>um</strong>ana em geral [...] Não<br />

conheço outra síndrome <strong>que</strong> tenha <strong>um</strong> interesse<br />

comparável”.<br />

Quan<strong>do</strong> conheci Ray, ele estava com 24 anos e quase<br />

incapacita<strong>do</strong> por múltiplos ti<strong>que</strong>s de extrema violência<br />

<strong>que</strong> irrompiam em saraivadas a cada poucos segun<strong>do</strong>s.<br />

Vinha sofren<strong>do</strong> com isso desde os quatro anos de idade,<br />

sen<strong>do</strong> estigmatiza<strong>do</strong> pela atenção <strong>que</strong> chamava,<br />

embora sua grande inteligência, perspicácia, força de<br />

caráter e senso da realidade lhe permitissem cursar<br />

com êxito o col<strong>é</strong>gio e a faculdade e ser valoriza<strong>do</strong> e<br />

ama<strong>do</strong> por alguns amigos e pela esposa. Por<strong>é</strong>m, desde<br />

<strong>que</strong> deixara a faculdade, ele fora demiti<strong>do</strong> de <strong>um</strong>a dúzia<br />

de empregos — sempre em razão <strong>do</strong>s ti<strong>que</strong>s, nunca por<br />

incompetência —, sofrerá crises contínuas de <strong>um</strong> tipo<br />

ou de outro, provocadas em geral por sua impaciência,<br />

belicosidade, seu grosseiro e brilhante atrevimento; e<br />

ele estava com o casamento ameaça<strong>do</strong> pelos bra<strong>do</strong>s<br />

involuntários de ”Foda-se!”, ”Merda!” e coisas <strong>do</strong><br />

gênero, <strong>que</strong> irrompiam dele nos momentos de<br />

excitação sexual. Ele (assim como muitos pacientes<br />

com essa síndrome) era extremamente musical, e não<br />

poderia ter sobrevivi<strong>do</strong> — emocional ou<br />

economicamente — se não fosse baterista de jazz nos<br />

fins de semana, de genuíno talento, famoso por suas<br />

súbitas e arrebatadas improvisações, <strong>que</strong> eram<br />

provocadas por <strong>um</strong> ti<strong>que</strong> ou <strong>um</strong>a batida compulsiva<br />

n<strong>um</strong> <strong>do</strong>s tambores e se transformavam<br />

instantaneamente no núcleo de <strong>um</strong>a ar<strong>do</strong>rosa e

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