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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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Ela verificou, então, <strong>que</strong> o <strong>que</strong> precisava fazer era<br />

prestar a máxima atenção à exatidão das palavras e <strong>do</strong><br />

uso das mesmas, e insistir para <strong>que</strong> os <strong>que</strong> a cercavam<br />

fizessem o mesmo. Cada vez menos ela era capaz de<br />

entender a linguagem informal ou a gíria — a fala <strong>do</strong><br />

tipo alusivo ou emocional — e precisava <strong>que</strong> seus<br />

interlocutores falassem em prosa — ”palavras<br />

apropriadas nos lugares apropria<strong>do</strong>s”. Descobriu <strong>que</strong> a<br />

prosa podia compensar, em certa medida, a ausência<br />

da percepção <strong>do</strong> tom ou <strong>do</strong> sentimento. Dessa maneira<br />

ela pôde preservar, e at<strong>é</strong> mesmo intensificar, o uso da<br />

fala ”expressiva” — na qual o significa<strong>do</strong> era da<strong>do</strong><br />

inteiramente pela escolha e referência adequada das<br />

palavras —, apesar de ficar cada vez mais perdida<br />

quan<strong>do</strong> se tratava de fala ”evocativa” (na qual o<br />

significa<strong>do</strong> <strong>é</strong> da<strong>do</strong> totalmente pelo uso e senti<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

tom).<br />

Emily D. tamb<strong>é</strong>m ouviu, com <strong>um</strong>a expressão<br />

petrificada no rosto, o discurso <strong>do</strong> Presidente,<br />

acolhen<strong>do</strong>-o com <strong>um</strong>a estranha mistura de percepções<br />

intensificadas e defectivas — a mistura exatamente<br />

oposta à de nossos afásicos. O discurso não a estimulou<br />

— nenh<strong>um</strong> discurso a estimulava mais — e tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong><br />

era evocativo, genuíno ou falso, passou-lhe<br />

despercebi<strong>do</strong>. Privada da reação emocional teria ela<br />

(como o resto de nós) se deixa<strong>do</strong> arrebatar ou engoli<strong>do</strong><br />

o <strong>que</strong> fora dito? De jeito nenh<strong>um</strong>. ”Ele não <strong>é</strong><br />

convincente”, ela comentou. ”Não fala em prosa<br />

apropriada. Seu uso das palavras <strong>é</strong> inadequa<strong>do</strong>. Ou ele<br />

tem deficiência cerebral ou alg<strong>um</strong>a coisa a<br />

esconder”.Portanto, o discurso <strong>do</strong> Presidente não<br />

funcionou tamb<strong>é</strong>m para Emily, em razão de seu senso<br />

intensifica<strong>do</strong> <strong>do</strong> uso formal da linguagem, da prosa<br />

apropriada, assim como não funcionou para nossos<br />

afásicos, <strong>que</strong> têm surdez para as palavras, mas<br />

possuem sensibilidade intensificada para o tom.<br />

Eis, portanto, o para<strong>do</strong>xo <strong>do</strong> discurso <strong>do</strong> Presidente.<br />

Nós, normais — ajuda<strong>do</strong>s, sem dúvida alg<strong>um</strong>a, por

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