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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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explicou. Como muitas pessoas com a síndrome de<br />

Tourette, ele sentia atração por coisas giratórias, em<br />

especial portas, sain<strong>do</strong> e entran<strong>do</strong> por elas com a<br />

rapidez de <strong>um</strong> raio; com o Hal<strong>do</strong>l, ele perdera o jeito,<br />

calculara mal seus movimentos, levan<strong>do</strong> <strong>um</strong>a forte<br />

pancada no nariz. Al<strong>é</strong>m disso, muitos de seus ti<strong>que</strong>s,<br />

longe de desaparecer, haviam simplesmente se torna<strong>do</strong><br />

mais lentos e imensamente mais dura<strong>do</strong>uros: ele podia<br />

ficar ”petrifica<strong>do</strong> em meio a <strong>um</strong> ti<strong>que</strong>”, em suas<br />

palavras, e se ver em <strong>um</strong>a postura quase catatônica<br />

(Ferenczi certa vez afirmou <strong>que</strong> a catatonia era o<br />

oposto <strong>do</strong>s ti<strong>que</strong>s — e sugeriu <strong>que</strong> estes fossem<br />

denomina<strong>do</strong>s ”cataclonia”). Mesmo com a<strong>que</strong>la <strong>do</strong>se<br />

diminuta, Ray apresentava <strong>um</strong> quadro marcante de<br />

parkinsonismo, distonia, catatonia e ”blo<strong>que</strong>io”<br />

psicomotor, com <strong>um</strong>a reação <strong>que</strong> parecia<br />

tremendamente desfavorável, sugerin<strong>do</strong> não a<br />

insensibilidade,<br />

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mas <strong>um</strong>a sensibilidade tão exagerada, tão patológica<br />

<strong>que</strong> talvez somente fosse possível fazê-lo passar de <strong>um</strong><br />

extremo ao outro - da aceleração e tourettismo à<br />

catatonia e parkinsonismo, sem possibilidade de <strong>um</strong><br />

meio-termo ben<strong>é</strong>fico.<br />

Compreensivelmente, ele ficou desalenta<strong>do</strong> com a<br />

experiência - e com essa id<strong>é</strong>ia — e tamb<strong>é</strong>m com <strong>um</strong>a<br />

outra <strong>que</strong> mencionou: ”Suponhamos <strong>que</strong> fosse possível<br />

eliminar os ti<strong>que</strong>s”, disse ele. ”O <strong>que</strong> sobraria? Eu sou<br />

composto de ti<strong>que</strong>s — não há mais nada”. Ao menos<br />

gracejan<strong>do</strong>, ele parecia não ter senso de identidade<br />

exceto como <strong>um</strong>a pessoa com ti<strong>que</strong>s; intitulava-se ”o<br />

homem <strong>do</strong>s ti<strong>que</strong>s de President’s Broadway”, falava<br />

sobre si mesmo na terceira pessoa, tratan<strong>do</strong>-se por<br />

”witty ticcy Ray”,* acrescentan<strong>do</strong> <strong>que</strong> era tão propenso<br />

a ”chistes com ti<strong>que</strong>s e ti<strong>que</strong>s com chistes” <strong>que</strong> já nem<br />

sabia se isso era <strong>um</strong>a bênção ou <strong>um</strong>a maldição.<br />

Declarou <strong>que</strong> não podia imaginar a vida sem a síndrome<br />

de Tourette e nem tinha certeza de <strong>que</strong> gostaria de

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