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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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tempo to<strong>do</strong> em <strong>um</strong> tormento — o tormento de <strong>um</strong><br />

homem perdi<strong>do</strong> na irrealidade, lutan<strong>do</strong> para resgatar a<br />

si mesmo, mas afundan<strong>do</strong> em incessantes invenções,<br />

ilusões, elas próprias muito irreais? E certo <strong>que</strong> ele não<br />

está à vontade — seu rosto mostra <strong>um</strong>a expressão<br />

tensa, preocupada o tempo to<strong>do</strong>, como em <strong>um</strong> homem<br />

sob incessante pressão interior; ocasionalmente, não<br />

com tanta freqüência ou mascarada se presente, <strong>um</strong>a<br />

expressão de confusão, franca, nua, pat<strong>é</strong>tica. O <strong>que</strong><br />

salva o sr. Thompson em certo senti<strong>do</strong>, e em outro<br />

senti<strong>do</strong> o arruína, <strong>é</strong> a superficialidade forçada ou<br />

defensiva de sua vida: o mo<strong>do</strong> como ela <strong>é</strong>,<br />

efetivamente, reduzida a <strong>um</strong>a superfície, brilhante,<br />

cintilante, iridescente, sempre em mudança, mas<br />

apesar de tu<strong>do</strong> isso <strong>um</strong>a superfície, <strong>um</strong>a massa de<br />

ilusões, <strong>um</strong> delírio, sem profundidade.<br />

Isso e tamb<strong>é</strong>m o fato de ele não sentir <strong>que</strong> perdeu o<br />

sentimento (pelo sentimento <strong>que</strong> perdeu), de não<br />

sentir <strong>que</strong> perdeu a profundidade, a profundidade<br />

incomensurável, misteriosa, de in<strong>um</strong>eráveis níveis <strong>que</strong><br />

de alg<strong>um</strong>a forma define a identidade ou realidade. Isso<br />

ocorre a todas as pessoas <strong>que</strong> entram em contato com<br />

ele por qual<strong>que</strong>r perío<strong>do</strong> de tempo: sob sua fluência,<br />

at<strong>é</strong> mesmo seu frenesi, existe <strong>um</strong>a estranha perda de<br />

sentimento — da<strong>que</strong>le sentimento, ou discernimento,<br />

<strong>que</strong> distingue entre ”real” e ”irreal”, ”verdadeiro” e<br />

”não verdadeiro” (não se pode falar de ”mentiras”<br />

neste caso, apenas<br />

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”não-verdades”), importante e trivial, relevante ou<br />

irrelevante. O <strong>que</strong> sai torrencialmente em sua<br />

incessante fabulação tem, em última análise, <strong>um</strong><br />

singular caráter de indiferença... como se de fato não<br />

importasse o <strong>que</strong> ele disse ou o <strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r <strong>um</strong> fez ou<br />

disse, como se nada verdadeiramente importasse mais.<br />

Um exemplo notável disso ocorreu <strong>um</strong>a tarde,<br />

quan<strong>do</strong> William Thompson, matra<strong>que</strong>an<strong>do</strong> sobre to<strong>do</strong>s<br />

os tipos de pessoas <strong>que</strong> improvisava na hora, disse: ”E

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