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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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Reconhecia tu<strong>do</strong>, ajustava o barômetro,<br />

verificava o termostato, sentava-se em sua<br />

poltrona favorita, como cost<strong>um</strong>ava fazer. Falava<br />

sobre os vizinhos, as lojas, o bar local, o cinema<br />

próximo, como se estivessem em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

anos 70. Ficava perturba<strong>do</strong> e intriga<strong>do</strong> se<br />

fossem feitas mudanças na casa, ainda <strong>que</strong><br />

mínimas. (”Você trocou as cortinas hoje!”, ele se<br />

<strong>que</strong>ixou certa vez à esposa. ”Como <strong>é</strong> possível?<br />

Tão depressa! Eram verdes hoje de manhã”. Mas<br />

as cortinas já não eram verdes desde 1978.) Ele<br />

reconhecia a maioria das casas e lojas <strong>do</strong> bairro<br />

— haviam muda<strong>do</strong> pouco entre 1978 e 1983 —,<br />

mas ficava perplexo com a ”substituição” <strong>do</strong><br />

cinema (”Como <strong>é</strong> <strong>que</strong> eles conseguiram derrubálo<br />

e construir <strong>um</strong> supermerca<strong>do</strong> da noite para o<br />

dia?”) Ele reconhecia amigos e vizinhos, mas os<br />

achava estranhamente mais velhos <strong>do</strong> <strong>que</strong> ele<br />

esperava (”O velho fulano de tal! Ele está<br />

mostran<strong>do</strong> a idade <strong>que</strong> tem. Eu não tinha<br />

repara<strong>do</strong> nisso antes. Por <strong>que</strong> hoje to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

está mostran<strong>do</strong> a idade <strong>que</strong> tem?”). Mas o<br />

verdadeiramente <strong>do</strong>loroso, o horror, acontecia<br />

quan<strong>do</strong> a esposa o trazia de volta — trazia-o, de<br />

<strong>um</strong> mo<strong>do</strong> inexplicável e fantástico (assim ele<br />

sentia), para <strong>um</strong> lugar estranho <strong>que</strong> ele nunca<br />

vira, cheio de desconheci<strong>do</strong>s, e o aban<strong>do</strong>nava.<br />

”O <strong>que</strong> você está fazen<strong>do</strong>?”, gritava ele,<br />

aterroriza<strong>do</strong> e confuso. ”Que diabo de lugar <strong>é</strong><br />

este? Que diabo está acontecen<strong>do</strong>?” Eram cenas<br />

quase insuportáveis de presenciar, e devem ter<br />

pareci<strong>do</strong> loucura, ou pesadelo, para o paciente.<br />

Felizmente, talvez, ele as es<strong>que</strong>ceria dali a

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