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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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<strong>que</strong> estava muda e não tinha <strong>um</strong>a maneira direta de<br />

expressar seu sofrimento, suas necessidades.<br />

O <strong>que</strong> estava claro era <strong>que</strong> ir para o hospital e ter<br />

seus ata<strong>que</strong>s ”controla<strong>do</strong>s” por drogas novas e<br />

poderosas pela primeira vez deu a Jos<strong>é</strong> alg<strong>um</strong> espaço e<br />

liberdade, <strong>um</strong>a ”libertação” tanto fisiológica como<br />

psicológica, de <strong>um</strong> tipo <strong>que</strong> ele não tinha desde os oito<br />

anos de idade.<br />

Os hospitais psiquiátricos são com freqüência<br />

considera<strong>do</strong>s ”instituições totais”, na acepção de<br />

Erving Goffman, contribuin<strong>do</strong> principalmente para a<br />

degradação <strong>do</strong>s pacientes. Isso ocorre, sem dúvida, e<br />

em larga escala. Mas eles podem ser ”asilos”, no<br />

melhor senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> termo, <strong>um</strong> senti<strong>do</strong> talvez não aceito<br />

por Goffman: lugares <strong>que</strong> oferecem <strong>um</strong> refúgio para os<br />

indivíduos atormenta<strong>do</strong>s, perturba<strong>do</strong>s, proporcionan<strong>do</strong><br />

exatamente a<strong>que</strong>la combinação de ordem e liberdade<br />

de <strong>que</strong> eles tanto necessitam. Jos<strong>é</strong> sofrerá com<br />

confusão e caos — em parte causa<strong>do</strong>s pela epilepsia<br />

orgânica, em parte pela<br />

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desorganização de sua vida — e como confinamento e<br />

cativeiro, tanto epil<strong>é</strong>ptico como existencial. O hospital<br />

foi bom para ele, talvez lhe tenha salvo a vida à<strong>que</strong>la<br />

altura, e não há dúvida de <strong>que</strong> o próprio Jos<strong>é</strong> percebeu<br />

isso perfeitamente.<br />

Subitamente, tamb<strong>é</strong>m, depois <strong>do</strong> constrangimento<br />

moral, da febril intimidade de sua casa, ele agora<br />

descobria outras pessoas, encontrava <strong>um</strong> mun<strong>do</strong>, ao<br />

mesmo tempo ”profissional” e solícito: sem<br />

moralismos, sem censuras, imparcial, mas ao mesmo<br />

tempo com <strong>um</strong>a preocupação verdadeira por ele e por<br />

seus problemas. Por isso, nesse momento (ele estava<br />

no hospital havia quatro semanas), ele começou a ter<br />

esperança, a tornar-se mais anima<strong>do</strong>, a recorrer a<br />

outras pessoas como nunca fizera antes — pelo menos,<br />

não desde o início <strong>do</strong> autismo, quan<strong>do</strong> ele tinha oito<br />

anos.

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